Uma escritora, com recursos do Ministério da Cultura, alterou e reescreveu a obra O Alienista, de Machado de Assis, com o intuito de facilitar e incentivar a leitura para os jovens que não leem as obras machadianas.
A atriz Fernanda Torres revelou anteontem (04/05), no programa Esquenta da Regina Casé, que foi impedida (e também protegida) por João Ubaldo Ribeiro de publicar o seu primeiro livro de crônicas. A atriz e também autora de Fim, contou que ao receber algumas propostas de editoras para publicar um livro com as crônicas que escrevia na época para a Folha de São Paulo, ligou para João Ubaldo que disse: “Não, não faça isso. O mundo da literatura é muito violento”. Ela não fez.
Esta semana, surgiu uma notícia para lá de bizarra, que causou a indignação – e com razão – de muitos leitores brasileiros. A notícia é a seguinte: Uma escritora, com recursos do Ministério da Cultura, alterou e reescreveu a obra O Alienista, de Machado de Assis, com o intuito de facilitar e incentivar a leitura para os jovens que não leem as obras machadianas. O nome desta escritora é Patrícia Secco.
“Entendo por que os jovens não gostam de Machado de Assis. Os livros dele têm cinco ou seis palavras que não entendem por frase. As construções são muito longas. Eu simplifico isso”, disse Patrícia à Folha.
Pois bem, vamos lá Pátricia! Eu também entendo o porquê da minha irmãzinha não gostar muito do quadro O Nascimento de Vênus, de Botticelli, mas nem por isso eu tenho o direito de colocar a boneca Barbie em cima da concha, no lugar da deusa Vênus, né? Seria uma grande afronta.
Além disso, quando se trocam as palavras de um determinado texto, por outras com o mesmo significado, fere-se gravemente o estilo do autor, suas escolhas lexicais e suas sequências sonoras. Ferimentos que podem levar a morte de um discurso. E o discurso machadiano não merece morrer. E mesmo que a intenção de facilitar e incentivar a leitura machadiana seja boa, o método é completamente absurdo.
Prova contundente de que Machado de Assis é fácil, difíceis são seus leitores.
Vejam só como anda este mundo literário, qualificado por João Ubaldo Ribeiro de agressivo, mas que permite a reescrita das obras do maior escritor nacional.