Mais 10 autores essenciais para saber o básico sobre literatura inglesa

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Dez autores e autoras da literatura que todo mundo deveria ler antes de morrer

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Um artigo, definitivamente, não é o bastante para contemplar a grandeza da literatura produzida na Inglaterra. Por isso, montamos uma nova lista, com autores que vieram depois de Charles Dickens. Autores que viram a Revolução Industrial florescer e com ela as lutas por direitos civis e de gênero. Autores que viram o mundo em guerra dividir-se em dois. Autores que são fundamentais para compreender os rumos que a literatura inglesa viria a tomar. Uma literatura mais diversificada, com novos modelos de narrativa e também de linguagem.

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1- As Irmãs Brontë

HIGH RES **YORKSHIRE, BRITAIN - 1997...Mandatory Credit: Photo by Rex Features ILLUSTRATION OF THE BRONTE SISTERS CHARLOTTE, EMILY AND ANNE YORKSHIRE, BRITAIN - 1997 EDITORIAL USE ONLY ART PAINTING SISTER SIBLING STOCK YORKSHIRE BRITAIN - 1997

Criadas em Yorkshire, conta-se que as três irmãs Brontë foram reclusas e seu maior passatempo era escrever e dramatizar histórias. Adultas, Charlotte (1816-1855), Emily (1818-1848) e Anne (1820-1849) tornaram-se todas destacadas romancistas da era vitoriana.

Emily Brontë escreveu um único romance, O Morro dos Ventos Uivantes, que a eternizou entre os grandes nomes da literatura mundial. Nele, Emily alterna os pontos de vista pelos quais a história de amor entre Heathcliff e Catherine Warnshaw é contada. Ora pela ótima do Sr. Lockwood, ora pelo olhar da governanta Nelly Dean.

Por sua vez, Charlotte Brontë fez sucesso com seu romance Jane Eyre, onde Jane, uma governanta, é apaixonada pelo seu patrão, o Sr. Rochester. Jane Eyre é mais uma história de amor, tão previsível quanto a maior parte delas, contudo, seu valor reside em questionar o papel da mulher na sociedade inglesa do século XIX, onde a mulher, por mais culta e educada que fosse, parece não poder ascender socialmente por conta própria.

Já Anne Brontë foi a romancista de menor prestígio entre as três. É dela a obra A Inquilina de Wildfell Hall. As três obras citadas foram adaptadas para o cinema.

 

2- George Eliot (1819-1880)

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Este é o pseudônimo de Mary Ann Evans. A autora publicava com nome masculino para que sua literatura fosse levada a sério. George Eliot é considerada por muitos a primeira romancista moderna da literatura inglesa por enxergar o romance como uma forma de arte e, não necessariamente, como entretenimento. Eliot traz para sua obra uma representação mais densa dos personagens e o condicionamento de todos os acontecimentos ao produto final da história.

Middlemarch: um estudo da vida provinciana, é seu romance de maior sucesso, tornando-se um grande clássico. Nele, diversas narrativas são interligadas, com um grande número de personagens, abordando temas como a natureza do casamento, idealismos, religião, política e, especialmente, a condição da mulher na sociedade, tendo suas personagens femininas como ponto central da história.

 

3- Thomas Hardy (1840-1928)

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Mesmo que, cronologicamente, pudesse ser rotulado como autor da era vitoriana, Thomas Hardy foi um escritor anti-vitoriano. Ele contrariava todos os valores do seu tempo e sua obra se caracterizou por carregar uma visão extremamente trágica e pessimista do mundo e da natureza. Para ele, o destino do homem está sempre sob influência de forças opressoras que fogem do seu governo e essas forças, junto às fraquezas do homem, o levam a ruína.

Esse seu “mau-humor” foi um dos responsáveis pela má recepção que seus principais romances, Tess e Judas, O Obscuro, hoje grandes clássicos da literatura inglesa, tiveram do público e da crítica na época.

Contudo, foi o próprio pessimismo exacerbado – aliado às habilidade de Hardy como romancista, a qualidade de sua estrutura narrativa e a profundidade psicológica de suas personagens – que fez com que sua obra, ambientada em zonas rurais da Inglaterra do século XIX, atingisse a universalidade.

 

4- Henry James (1843-1916)

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Além de ter se destacado como romancista, Henry James se provou um grande crítico e teórico, defendendo o romance como objeto estético e trazendo para a literatura rupturas significativas e irreversíveis com o passado.

Uma delas tem a ver com a verosimilhança: era comum, nos romances vitorianos, que o autor se intrometesse na história e falasse diretamente com o leitor. Segundo James, este era um artifício que matava a ilusão de realidade que deveria haver na ficção. O mesmo acontece com o narrador onisciente. O romance deve agora ser narrado por ele mesmo. Uma inteligência central, no eixo da narrativa, deve filtrar os acontecimentos e de modo que a história se conte espontaneamente, influenciando toda a literatura que virá a seguir.

Nova-iorquino, naturalizou-se britânico e boa parte de sua obra foi escrita na Inglaterra, onde morreu. Em seu principal romance, Retrato de uma Senhora, em que autor conta a história de Isabel Archer, trazida dos Estados Unidos para viver na Inglaterra, Henry James traz justamente alguns dos conflitos entre novo mundo e a velha Europa tradicional.  

 

5- Joseph Conrad (1857-1924)

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Nascido na Polônia, puxou a veia literária do pai, escritor e militante. Se o pai foi parar em algum lugar na Sibéria, condenado a trabalhos forçados, Conrad, por sua vez, foi parar em um navio da marinha britânica. Foi lá, depois de completar vinte anos, que aprendeu a falar o idioma. Capitão e naturalizado britânico, passou a viver em Canterbury e só foi publicar seu primeiro romance, Almayer’s Folly, aos quarenta.

Portanto, não é à toa que seu romance mais destacado, Coração das Trevas, publicado em 1899, se passe no mar e seu protagonista seja um marinheiro. Em um navio ancorado no Rio Tâmisa, em Londres, Charles Marlow conta a seus amigos o que se passou com ele no Congo, onde foi contratado para transportar marfim. O livro trata de temas como os efeitos do isolamento da sociedade e de suas convenções morais. Francis Ford Coppola, em 1979, transporta a trama de Conrad do Congo para a Guerra do Vietnã, com Apocalypse Now, que leva o Oscar de Melhor Filme.

 

6- Virginia Woolf (1882-1941)

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Romancista, ensaísta, contista, crítica e editora, Virginia Woolf se consagrou como uma das grandes autoras inglesas por sua sensibilidade e pelas inovações que suas narrativas trouxeram para a literatura. Por exemplo, se Henry James mata o autor onisciente, Woolf o sepulta. Com ela a sequência temporal se quebra e o passado alia-se ao presente na transmissão de ideias e nas emoções, num fluxo ilógico e associativo de consciência.

Contudo, se olharmos para os dois romances mais famosos da autora, podemos interpretar que sua obra é um saco, fútil e sem propósito. Em Mrs. Dalloway, Virginia conta a história de um dia na vida de Clarisse Dalloway e tem como ponto central os preparativos para uma festa que ela dará durante a noite. Já a narrativa de Ao Farol gira em torno de uma possibilidade da família Ramsay visitar um farol.

Assim, para compreender a relevância de sua literaturam é necessária uma análise mais abrangente e profunda. A ação nas histórias de Virginia Woolf fogem ao convencional da época, ela se dá na mente de suas personagens, explorando a fundo suas personalidades, sentimentos e percepções.

 

7- Aldous Huxley (1894-1963)

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Os tempos que cercam a Segunda Guerra Mundial são nebulosos e sem esperança. A ascensão de governos ditatoriais pela Europa é o prognóstico de um futuro obscuro, ou seja, solo fértil para os grandes romances distópicos que vêm a seguir.

Entretanto, não é somente a conjuntura política europeia que preocupa nosso autor. Diferente de autores mais otimistas, que enxergavam no progresso científico a redenção da humanidade, Huxley tem uma visão um pouco mais sombria do avanço tecnológico.

Em seu romance de maior destaque, Admirável Mundo Novo, publicado em 1932, a tecnologia soluciona todos os problemas da humanidade, mas extingue toda a grandiosidade do homem. Nele, Adous Huxley cria uma sociedade futurista composta por 2 bilhões de pessoas, cujo slogan é “comunidade, identidade e estabilidade”. Subdivididas por castas determinadas pela engenharia genética, os habitantes têm seus destinos irreversivelmente definidos em laboratórios.

 

8- George Orwell (1903-1950)

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Orwell sempre foi metido com política. Assim como Hemingway, participou da luta armada na Guerra Civil Espanhola ao lado dos Republicanos, tentando conter a investida franquista, apoiada por Mussolini e Hitler. Depois de ter chutado alguns traseiros fascistas, Orwell deixou a Espanha derrotado e gravemente ferido. Ele mesmo mais tarde admitiria não fazer ideia de como ele e sua esposa sobreviveram à guerra e também não foram presos pelo exército de Franco.

Logo, não é à toa que a sua obra seja engajada com causas políticas e sociais. E é impossível falar sobre distopias sem citar seu nome. Revolução dos Bichos, publicado em 1945, é uma fábula, quase uma historinha infantil, onde os animais da Granja do Solar expulsam o proprietário sr. Jones e implementam um novo modelo de governo na fazenda. O resto da trama é marcado por traições e reviravoltas que levam os animais a viver em um sistema tirânico governado por eles mesmos.

1984, publicado em 1949, vai além. É a sua distopia pra gente grande. Neste, Orwell descreve um mundo dividido em três blocos: Oceania, Eurásia e Lestásia. O Estado da Oceania é governado pelo Partido e regido pelos princípios do Socing (Socialismo Inglês), estando sempre em guerra, ora contra um bloco, ora contra outro, alternando também suas alianças. Os habitantes da Oceania têm seus atos e até pensamentos vigiados 24 horas por dia pelo Grande Irmão.  

 

9- Graham Greene (1904-1991)

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Greene figura naquelas longas listas de escritores do século XX injustiçados por nunca terem recebido em Nobel de Literatura. Prolífico já antes de estourar a Segunda Guerra Mundial, o autor foi produtivo até seus últimos anos de vida, atingindo grande sucesso com o público inglês.

Com uma criatividade quase perene e um estilo direto e objetivo, a obra de Greene explora as opressões e tragédias às quais o homem contemporâneo está está exposto. Para ele, o maior drama da humanidade é que o que nos separa do que desejamos alcançar e aquilo que, devido à nossas fraquezas e limitações, conseguimos.

Graham Greene foi agente secreto e trabalhou para a inteligência britânica durante a Segunda Guerra Mundial, o que veio a influenciar todo o seu trabalho a partir daí. Nosso Homem em Havana, por exemplo, conta a história de Jim Wormold, um inglês que vive em Havana, Cuba, que recebe uma proposta para trabalhar para o serviço secreto britânico na ilha. O trabalho salvaria Wormold de todos os problemas financeiros que ele enfrenta ao ser abandonado pela esposa e ficar responsável por criar a filha sozinho. Para conseguir tirar ainda mais dinheiro do governo, o agente começa a mentir acontecimentos, que acabam, inesperadamente, se concretizando.

 

10- Anthony Burgess (1917-1993)

Injustamente, Stanley Kubrick é mais lembrado que Anthony Burgess quando fala-se em Laranja Mecânica. Não que o diretor não mereça os créditos, pelo contrário, a adaptação do romance para o cinema é absurda, é linda em todos os aspectos. Mas isso não basta, ela não dá conta da grandiosidade do trabalho de Burgess.

A intenção aqui não é levantar um debate inócuo de livros x adaptações cinematográficas. Acontece que o romance, publicado em 1961, tem como grande atrativo a linguagem. A história de Alex Delarge e seus druguis é contada em um dialeto anglo-russo, chamado nadsat que o próprio Burgess criou. O autor também era linguista e publicou a obra sem glossário, embora ele esteja presente nas edições atuais. Sua intenção era causar não somente um estranhamento no leitor, mas também proporcionar uma imersão ainda maior no seu universo futurista e perturbador.

Portanto, a linguagem, aliada a uma narrativa intensa de uma distopia que questiona a natureza da liberdade humana e o sistema penitenciário inglês, fazem de Laranja Mecânica um clássico, e de Burgess um dos grandes nomes da literatura inglesa.

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