Manoel de Barros, um susto bom

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Na minha última coluna, comentei sobre a realização de um pequeno sonho de consumo literário, o livro de letras de Aldir Blanc. Enquanto escrevia, lembrei-me de outro realizado há algum tempo atrás. Trata-se do volume Poesia completa, de Manoel de Barros (Leya, 2010) – já não tão completa como antes, após o lançamento de Escritos em verbal de aves, livro posterior à coletânea, mas ainda de valor inestimável.

Alguns livros nos marcam de forma a tornarem inesquecíveis o momento em que os abrimos. No meu caso, lembro exatamente de onde eu estava, quando foi, e como me senti ao ler as primeiras palavras de obras como Libertinagem, do Manuel Bandeira, A hora da estrela, de Clarice Lispector (sim, os dois conhecidos através da lista de livros do vestibular) e de Livro das ignorãças, de Manoel de Barros (travado contato já mais grandinho).

De pé, na livraria de um shopping em Campinas, antes de pensar seriamente em me tornar também escritor, deparei-me com o primeiro poema do livro: Uma didática da invenção. O impacto daquelas palavras, daquela rede sofisticada de palavras simples, é inesquecível.

Poesia Completa (Leya, 2010)
Poesia Completa (Leya, 2010)

Manoel de Barros é um susto bom. Lê-lo pela primeira vez é…

(Aí eu não consigo encontrar nenhuma descrição que faça jus.)

(Busco no livro e encontro na Entrada, apresentação escrita pelo próprio Manoel, uma “definição” muito melhor do que eu poderia escrever. Diz o autor: “Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada tenho profundidades.”)

Depois desse primeiro “encontro”, passei a caçar por livrarias seus outros livros, sempre imaginando como seria bom se um dia tivéssemos toda sua poesia reunida em um único volume. A materialização desse livro é uma alegria imensa para mim, e creio que será para qualquer um que se aventurar por ele.

(Mesmo tendo a íntegra do Livro das ignorãças no Poesia completa, mantive – e pretendo manter para sempre – comigo aquele livrinho fino, comprado naquela livraria no shopping de Campinas em 2007, quase sob encantamento. Perdi as contas de quantas vezes, desde então, reli Uma didática da invenção. Um dia aprendo, ou desaprendo, de vez.)

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