Manoel de Barros, o marceneiro das palavras

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Manoel define sua poesia apenas como jogos de palavras que não querem esconder nenhum significado obscuro. Está tudo ali, basta ao leitor apreciar o resultado de suas experiências vocabulares.

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Manoel de Barros

Mais do mesmo dizer isso, mas o gênero literário que menos atrai adeptos é, sem dúvida, a poesia. Os motivos são variados. Alto grau de hermeticidade, inúmeros tipos de métrica, rimas pobres e ricas, simples e complexas. Exige certo grau de sensibilidade do leitor, que deve enxergar o belo através do eu lírico, entender o sofrimento sublimado pelo poeta.

E se tudo isso fosse simplificado? E se não houvesse tantas referências a tantos poetas com nomes sofisticados que já não caminham por essas terras? E se a crítica fosse esquecida? E se o poeta não tivesse a obrigação de se dizer conhecedor de Mallarmé, Baudelaire e Maiakovski? E se apenas houvesse admiração pela improvável combinação de palavras? Esse cenário mostra-se possível no documentário Só dez por cento é mentira, dirigido por Pedro Cezar, sobre o poeta Manoel de Barros.

O autor se considera um vagabundo nato, praticante do ócio que brinca com as palavras, criador de universos que remetem à infância. Avesso a entrevistas orais, Manoel define sua poesia apenas como jogos de palavras que não querem esconder nenhum significado obscuro. Está tudo ali, basta ao leitor apreciar o resultado de suas experiências vocabulares.

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Manoel de Barros no documentário “Só dez por cento é mentira”

Em nenhum momento o escritor ostenta algum tipo de conhecimento poético que deixe o não iniciado na poesia receoso de adentrar esse universo. Seus modos simples e mansos mostram que a poesia está nas coisas pequenas, fazendo ligação direta com imagens de rodas de bicicleta enferrujadas, rachaduras na parede, garrafas vazias que viram vasos de planta, cadernos de rascunho que se transformam em pequenos livros concebidos manualmente.

Sua poética mostra-se similar ao trabalho do funileiro, que precisa improvisar para fazer remendos da lataria de um Fusca velho, do técnico em eletrônica, que recria possibilidades ao realizar emendas que fazem um liquidificador ultrapassado voltar a funcionar. Não há segredos. O aprendizado surge com a prática.

A poética de Manoel de Barros é altamente recomendável para aqueles que buscam simplificar a vida, utilizando-se do “abridor de amanhecer” e do “esticador de horizonte”, dispositivos criados por um poeta que se revela um simples marceneiro das palavras, que cria brinquedos para os meninos de seu bairro, ao contrário de outros que estão mais para engenheiros e afastam aqueles que não são de sua área.

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