Marquês de Sade e a rebelião do corpo

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Houve um tempo em que a literatura era tão influente que dela saíam termos que se popularizavam pela sociedade, um dos mais conhecidos é o da palavra “Sadismo”, tirado do nome de Sade, Marquês de Sade

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A definição mais clara da palavra sadismo, segundo um dicionário, menciona o seguinte: “Prática sexual que consiste em obter prazer com a dor e o sofrimento de outra pessoa; prazer experimentado com o sofrimento alheio; crueldade extrema”.

Além de Sade, outros autores também foram condecorados com a criação de termos com base em seus nomes, um deles é Sacher Masoch, escritor austríaco que, diferentemente de Sade, escrevia histórias em que os protagonistas, em vez de bater, gostavam de levar umas boas bofetadas, masoquistas.

O romance mais clássico do libertino Sacher Masoch, A vênus de peles, traz a narrativa de um escravo sexual e sua dominadora, que mais tarde, com a popularização de ambos os autores, faria nascer uma outra palavra: “Sadomasoquista”.  Para além das influências terminológicas, Marquês de Sade também deixou sua marca no mundo ocidental ao ser um ferrenho defensor republicano ainda numa França monarquista. Iluminista radical, pregava a ruptura da humanidade com seus deuses em troca da felicidade libertina.

Mesmo com a banalização da pornografia no ambiente digital de nossos dias, até hoje Sade é um tabu quando lido, suas ideias sobre o corpo ainda nos são inquietantes; embora na literatura tudo seja permitido, ruborizamos ao constatar a falácia do amor romântico dissecado em seus textos. O universo do qual vive Sade nunca será projetado pelo vazio da milionária indústria pornográfica, sua obra vai além do humano, projeta no corpo destituído de Deus a força das máquinas, máquinas feitas para o sexo insaciável e o crime.

Sua obra foi recusada e banida ainda em vida, tanto que voltaria a ser publicada oficialmente apenas na década de 1960 na França, que naqueles tempos vivia os ventos das mudanças e manifestações sociais progressistas.

Vale mencionar, ainda, que em um de seus livros mais importantes, A filosofia na alcova, Sade traria pela primeira vez os filósofos, a moral e a filosofia para seu campo embrionário, isto é, a alcova.

A iconoclastia sem barreiras de Marquês de Sade rendeu-lhe muitos problemas. Seria diagnosticado como louco, morreria na prisão, mas foi lá que escreveu grande parte de seus textos mais polêmicos e intrigantes,  caso de Os 120 dias em Sodoma.

A coragem de Sade só pode ser comparada com a do cineasta italiano, Pier Paolo Pasolini ao filmar 120 Dias, na década de 1970. Entretanto, nem mesmo ele conseguiu captar a totalidade da narrativa brutal Sadiana, uma vez que parece impossível representar com ferramentas audiovisuais o que está próximo apenas do lado mais obscuro da condição humana.

 

Para conhecer mais sobre Sade e sua obra:

Os infortúnios da virtude, de  Marquês de Sade.

Diálogos entre um padre e um moribundo, de Marquês de Sade.

A felicidade libertina, de Eliane Robert de Moraes.

Lições de Sade, de Eliane Robert de Moraes.

Os libertinos de Sade, de Clara castro.

 

 

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