Aha…
peguei os mais curiosos! Que título, heim!?
Apesar de eu seguir uma linha mais reflexiva, mais voltada para as ações dos seres humanos em si em detrimento de fazer resenhas literárias que apenas fazem a crítica imparcial de determinada obra, fazendo, assim, um contraponto com o que o blog Homo Literatus busca, hoje resolvi ser uma articulista obediente. É, hoje vou falar de uma obra. Ou você achava que com todo esse meu ar sincero, esse meu jeitinho assim bem disposto de falar de minhas experiências todos os sábados, eu iria realmente trazer a luz um tema erótico?
Não, não. Hoje não.
Bem, hoje vou falar de poesia. Poesia contemporênea. Poesia fragmentada como nosso cotidiano, como nossas conversas entrecortadas, que sofrem rupturas o tempo todo. Poesia viva, poesia que parece pensamento, poesia que é rápida, porque rápida é a vida, mas, nem por isso, sem sentido.
A vida pode parecer não ter sentido de vez em quando, mas a poesia por mais que pareça não ter, tem. Sempre diz alguma coisa. Um dos melhores poetas, na minha singela opinião, é o Manoel de Barros e ele tem uma forma muito risível e suave de fazer poesia, talvez, para muitos, sem sentido.
Em um mundo em que se espera que um livro seja cheio de regras formais, pensamentos racionais. Que um livro de poesias seja cheio de rimas, de formas fixas, de imposições gramaticais, Paula Taitelbaum se sobressaí e cria sua própria forma de fazer poesia e ver a vida através de flashes, de pensamentos. Versos sim, mas rima branca, livre, inexistente. Liberdade para as palavras. Liberdade de expressão. Em alguns momentos, o escracho.
Ménage à Trois é um compilado de 3 obras já escritas pela autora que se juntam para mostrarem o que tem de melhor. Segundo a própria autora
“Os três estão deitados juntos, formando um único corpo. Uma só estrutura viva que se expõe para todo e qualquer voyeur. Mas não se iluda. Apesar de estarem sobre o mesmo lençol, apesar de um olhar desatento não perceber onde começam os braços e terminam as pernas, apesar disso, cada um deles não perdeu – e nem jamais perderá – sua identidade.”
Os três a que Paula faz referência no excerto acima, são os melhores poemas de Eu versos Eu, Sem Vergonha e Mundo da lua reunidos para a apreciação de leitores despudorados. Mas eis que no meio do ménage surge um quarto integrante, pequenino mas muito significante, eu não sei se ele veio olhar, ou fazer parte da festa, mas tive certeza de que esse pequeno maroto é o mais sem vergonha de todos os elementos participantes da trama: (Des)Conhecidos.
Sim, entra um quarto integrante desconhecido no meio da tramóia e ele é o mais inescrupuloso de todos, embora tenha um gosto doce, pode ser bem ácido.
Esse quarto participante é a oportunidade de conhecer um livro que a autora recém havia começado quando houve a compilação. Poemas ricos de sentido e sentimentos. Um tanto feminista. Uma visão diferenciada. O livro se dispõe a ser um corpo estranho no mundo. A poesia ali contida convida ao incômodo. Um filho que veio ao mundo para causar desconforto. Um livrinho que causa raiva, que causa identificação, que causa dor, que causa riso. Se você é puritano, não creio que seja uma leitura interessante, melhor ler outra coisa.
Uma poesia descritiva, com cenas corriqueiras e pensamentos impulsionados por sangue quente, pela rigidez social que tende a rapidez. É fácil ver as imagens e sentir o que se passa com o eu-lírico:
Ela pega a bolsa, ajeita a blusa e vai
Vai correndo pela rua feito um trem
Sem olhar para nada nem ninguém
Sem freio vai enfrentando o atrito do ar
Vai sem conseguir nem ao menos respirar
Ela só pensa em alcançar aqueles braços
Percorrer com a língua todos os seus traços
Vai correndo porque quer penetrar em outra pele
Falecer num gozo que a revele.
Depois de todos esses jogos de sentido, eu fico por aqui, pensando numa forma pouco lírica de resolver meu ménage entre os livros que tenho que ler sem o intuito de despertar minha libido.
Bom final de semana a todos,
Taiane Anziliero