Mesmo com sua repulsa às redes sociais, o premiado escritor David Mitchell utilizará o Twitter para escrever seu novo conto

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“Talvez você realmente precise do limite imposto por esses ridículos 140 caracteres para inventar algo novo”, diz autor sobre a experiência de utilizar Twitter.

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O conto The Right Sort será escrito no Twitter, em segmentos com 140 caracteres cada um. A façanha é do escritor David Mitchell, autor de Cloud Atlas. Acredita-se que com 20 tweets de cada vez, durante sete dias, teremos o inédito conto publicado. Ao todo, serão 280 Tweets.

David Mitchell, com 5 livros publicados, já ganhou vários prêmios importantes e é considerado um dos grandes escritores britânicos da sua geração. Apesar de grande reconhecimento, somente um livro seu foi publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras: Menino de Lugar Nenhum. Mas, outro trabalho de David já foi visto no Brasil em outro formato, que não o literário, é o caso do filme com o título A Viagem, realizado pelos diretores Andy Wachowski e Lana Wachowski (que também dirigiram a trilogia Matrix). O filme é uma adaptação do seu livro Cloud Atlas.

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Apesar de que David resolveu publicar seu conto no Tweet, ele não é fã de redes sociais e nem uma conta no Tweet possui, sendo obrigado, agora com esse seu projeto, realizar um cadastro somente para isso. O que faz o escritor não ser adepto das redes sociais é o interesse de manter a sua privacidade. Além disso, disse a BBC que também não quer contribuir para um sistema cheio de trivialidades e irrelevâncias. Parece que ele realmente não só não gosta de redes socais, como tem uma visão quase que hostil em relação a elas. O tom e suas palavras, pelo menos, denunciam a tal hostilidade.

A internet tem sido celebrada como espaço democrático de divulgação de trabalhos literários. Através de blogs, redes sociais, sites e outras plataformas, muitos escritores tem se aproximado do seu público ou leitores também. Mas David não pensa assim. Para termos uma ideia, o escritor viu no Twitter a forma de usar as redes sociais e ao mesmo tempo “preservar alguma integridade”, indo de encontro aos vários jovens escritores que utilizam da Internet para se promover e promover suas obras.

Se, de um modo geral, até para escritores famosos, as novas tecnologias consolidaram a revolução da difusão e essa é a revolução mais importante da internet para a literatura, David não se importa com isso, pois ele só resolveu abrir uma conta no Twitter, o contrariando, devido a muita insistência do seu editor, que tem como objetivo auxiliar na divulgação do seu novo livro: The Bone Clocks e de eventos programados em torno do lançamento.

Mesmo assim, David escolheu publicar no Twitter e não em outras redes sociais, como Facebook (que por sinal é até mais confortável e conveniente, por permitir mais caracteres), devido a ideia insistente de manter a sua privacidade e evitar ao máximo as trivialidades e as irrelevâncias presentes, segundo ele, nesses sites de relacionamentos. Se indagado porque não uma rede social mais conveniente para o projeto, como uma página de curtidas no Facebook, o que não é necessariamente um perfil particular do autor, David responde para BBC: “Talvez você realmente precise do limite imposto por esses ridículos 140 caracteres para inventar algo novo”.

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Com tudo isso e juntamente com a pressão do seu editor, Mitchell Davido, que em 2003 foi incluído pela influente revista literária Granta num ranking com os melhores jovens romancistas britânicos, disse que não tem a menor intenção de render-se às redes sociais. Com adjetivos para com as redes sociais como trivialidades, irrelevâncias e ridículos, David, de alguma forma, teve que se submeter a elas. “A internet não pode ser totalmente ignorada para quem quer ter seu livro publicado hoje em dia”, disse o seu próprio editor. Agora David é um dos mais importantes escritores da atualidade a publicar uma história no Twitter.

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Marcelo Vinicius é escritor e fotógrafo, autor do livro "Minha Querida Aline" (Editora Multifoco). Colunista do portal Homo Literatus e editor da Revista Sísifo. É amante da arte, especialmente a fotografia, o cinema e a literatura. Graduando em Psicologia pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na qual faz parte da equipe editorial da revista de Filosofia IDEAÇÃO-UEFS, do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Filosofia (NEF); é integrante do grupo de estudos em Filosofia da Arte e do grupo de pesquisas em Filosofia Contemporânea na UEFS. É certificado pelo curso de fotografia do Cento Universitário de Cultura e Arte (CUCA) e teve suas fotografias selecionadas por diversos festivais. Participou de jornais regionais, do projeto de extensão sobre cinema e produção de subjetividade e do projeto de Psicologia Social na UEFS. Foi responsável também por coordenar projetos acadêmicos sobre os escritores Franz Kafka e Fiódor Dostoiévski, ainda co-coordenou projetos sobre os cineastas Bergman e Hitchcock e apresentou o tema “A relação entre o escritor Dostoiévski e o cineasta Hitchcock em Festim Diabólico”, na II Mostra 100 Anos de Cinema: Alfred Hitchcock.

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