Tenho um amigo chamado Otto. Ele é muito inteligente e entende de tudo. Da teoria da relatividade à teoria das cordas; das notas musicais e da pluralidade da semiótica; da história política sul-americana e dos colonizadores da África; de tudo, Otto entende de tudo. E explica bem. Passa seu conhecimento exatamente como adquirido; ou melhor, de forma didática e compreensível. Como artista, Otto é um merda.
Porque eu gosto dos burros. Porque é da subjetividade que nascem as melhores obras. Porque sim. Ora, posso tentar explicar, mas logo ali, duas linhas adiante, talvez você se perca. Talvez eu não consiga externar o que há em mim de forma clara, e isso é, tantas vezes, comum – e o que não é comum sem ser tantas vezes?. Aqui, o que quero dizer é que posso, sim, estudar Descartes, Kant e Sartre e deles não vou extrair o essencial. Há o óbvio; e há o que identifico em suas palavras e relaciono com as minhas referências. Adapto e condenso. Pois todo o meu conhecimento até hoje foi adquirido dessa forma. Não acredito em – e nem entendo do – não-entendimento. Pois cada um entende (e interpreta) como lhe convém.
Coloque um documentário sobre os pinguins e, talvez, eu apenas observe o gelo. Talvez os imagine como grandes surfistas bicolores. Talvez eu só escute sobre como algumas espécies depositam os ovos em pequenas fossas e outras constroem ninhos com pedras. Talvez eu nem queira assistir.
Por isso declaro: a subjetividade de cada um que cria as melhores obras. É externar a arte com nossas entranhas coladas nela. É colocar para fora aquilo que pensamos, enquanto nos colocamos para fora ao mesmo tempo. Esteja ciente que alguns vão olhar sem entender a composição de suas tripas. Alguns vão questionar o sentido – ou com qual fluxo – que o sangue está correndo. Outros mais afortunados, vão reparar em uma veia saltada e lembrar de uma veia própria. E daquilo, extrair outra história, alterando o significado. Sortudos são esses.
Meu amigo Otto não acredita nisso. E meu amigo Otto nunca escreveu nada que tenha me comovido. Por isso me resignei: não faço mais arte para o Otto. Como artista, Otto é um merda. Como amigo, Otto é maravilhoso. Porque é didático e compreensível e me passa as informações mastigadas. Claro, rumino-as antes de colocar no papel. Não é pra confundir. É porque se diferente disso fosse, não estaria aqui por completo. Em cada linha, entrelinha e – ou falta de – virgula