Mexicano que rechaça ‘realismo mágico’ costura trama universal

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SYLVIA COLOMBO

Nos anos 1990, Jorge Volpi foi um dos integrantes da geração “crack”, grupo de jovens autores mexicanos que rompeu com a tradição do “realismo mágico” latino-americano.

Autor de “Em Busca de Klingsor” (Companhia das Letras), Volpi e seus colegas defendiam a ideia de que a literatura do continente não deveria estar presa a regionalismos, deveria refletir a vida e os dramas dos grandes centros latino-americanos e mesmo as questões contemporâneas internacionais, sem fronteiras.

O “crack” hoje é passado, mas Volpi ainda segue alguns de seus princípios.

Seu novo romance, “La Tejedora de Sombras” (ed. Planeta), passa-se na Nova York dos anos 1920, época em que o médico Henry Murray e sua mulher, Christiana Morgan, viajam à Suíça para ser analisados por Carl Gustav Jung (1875-1961).

Para remontar sua protagonista, Volpi estudou seus diários e cartas durante um período em que permaneceu nos EUA. O mexicano é também professor da Universidade Princeton.

“Morgan fez anotações ao fim de cada sessão com Jung. Seus escritos são como um diário minucioso de um tratamento. A partir dele, tentei reconstruir sua personalidade e seu tempo”, contou Volpi à Folha, durante a 26ª edição da Feira do Livro de Guadalajara, em novembro.

O livro começa narrando a história de Morgan em terceira pessoa e depois passa à primeira. “É um processo de ir assumindo sua voz a partir do conhecimento de seus sentimentos”, explica.

Vinte anos depois do “crack”, Volpi diz que há uma boa relação entre as novas gerações de autores do continente e seus antecessores.

“Hoje ninguém mais exige do escritor latino-americano que seja exótico e fale sobre a vida mágica de algum vilarejo idílico. Ao mesmo tempo, há respeito pelo que deixaram Vargas Llosa, García Márquez, Carlos Fuentes.”

Apesar da vitória do PRI (Partido Revolucionário Institucional), ao qual se opõe, Volpi vê um bom momento político no México hoje. Especialmente por conta do movimento “YoSoy132”, que levou milhares de jovens às ruas.

“Eles podem ser desarticulados, mas a verdade é que mudaram a agenda dos candidatos, trazendo à tona temas que estavam relegados, como a reforma da educação, a participação dos meios televisivos no jogo político e a guerra ao narcotráfico”, conclui.

A jornalista SYLVIA COLOMBO viajou a convite da organização do evento.

Publicado originalmente na Folha Online.

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