Para entendermos o que é o Concretismo e sua poesia, temos que entender que ele é uma vanguarda – e todos os eventuais problemas de ser uma vanguarda pós-segunda guerra. Para tanto, faremos um breve painel do conceito para, em seguida, fazermos alguns apontamentos sobre o movimento tupiniquim.
As Vanguardas
Quando se fala em vanguarda, o que se tem em mente, normalmente, é o começo do século XX e o impacto das grandes tecnologias da época – cinema, automóvel etc. – no cotidiano daquele mundo. Movimentos como o Futurismo italiano, o Cubismo francês, o Dadaísmo suíço ou o Surrealismo têm lugar no mundo pré e entre-guerras, no qual ainda se via o impacto no dia-a-dia das novas invenções e seus desdobramentos.
(Não custa lembrar também que até esse ponto da história ninguém duvidava de que o progresso sucessivo das novas máquinas e tecnologias nos levavam a humanidade a algo melhor e grandioso, tal qual imaginavam os teóricos marxistas.)
Mas, então, vai a Segunda Grande Guerra e o homem viu ser capaz de se auto-destruir com o que criara para tornar sua existência melhor – e lá se foram todas as certezas históricas e tudo mais pelo ralo.
Nesse ponto, morreram as vanguardas e suas ideias; afinal, elas não tinham mais lugar no mundo cada vez mais instável da Guerra Fria e de questionamentos constantes das verdades universais pregadas desde o Iluminismo.
Mal sabia o mundo que numa periferia surgiria o maior e mais prepotente mostro anacrônico da Literatura: O Concretismo. Vejamos a razão.
Vanguardas e o Brasil
É fato que o Brasil, quando se fala de inovação no campo literário, sempre está atrasado ou tenta inventar a roda quando os outros já estão a fabricando em série. Foi assim com a Semana de Arte Moderna – quando na Europa as vanguardas começavam a esfriar. Aqui temos o diagnóstico de como nossos intelectuais sempre estão a correr atrás do trem da História. Os Andrades & cia. tentaram fazer uma versão nacional do que já havia sido feito na Europa até então – e mal sabiam eles que esses movimentos haviam surgido muito mais próximos da gente, logo ali na América Hispânica.
Não foi diferente com os irmãos Campos e Décio Pignatari. No embalo de Finnegans Wake, de James Joyce, e na onda daquilo que prometia colocar as Ciências Humanas no patamar de ciência séria, tal qual às exatas e às biológicas (como se não fossem), o Estruturalismo, eles reinventaram a Poesia com uma nova sintaxe e abolindo os versos em 1956.
Realmente reinventaram?
Se esquecermos Mallarmé (morto em 1898), Maiakovsky (morto em 1930), Marinetti (morto em 1944), Apollinaire (morto em 1918), James Joyce (morto em 1941), além de Pound e Cummings – que apesar de vivos na época, eram corolários do passado, não do futuro – até podemos dizer que sim, o Concretismo tem algo de novo a dizer ao mundo.
E o que sobra do Concretismo?
De fato, quase nada.
Alguns nomes famosos, como Ferreira Gullar, ao verem que estavam numa barca fadada ao naufrágio, saltaram antes e salvaram a sua (futura) reputação. De resto, dá para se dizer que quase nada sobrou do movimento em si. Seus membros-fundadores viraram acadêmicos, fazendo com que alguns poetas conhecidos nacionais e alguns excêntricos no exterior fizessem uso da sua nova poética. Também serviu de trampolim entre a Semana de Arte Moderna e a Tropicália – outra das inúmeras vanguardas brasileiras anacrônicas, fechada em seus próprios membros e sem repercussão fora de si.
Provavelmente, o seu legado é ser um corpo estranho nos livros de historiografia literária brasileira entre a geração de Bandeira, Drummond e Cecília e o que viria com o ex-concreto Ferreira Gullar.
E nada mais.