Modos inacabados de resenhar

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Em Modos inacabados de morrer, seu romance de estreia e vencedor da Maratona Literária da Editora Oito e Meio, André Timm demonstra talento e um ótimo poder de concisão                   

Você ouve falar bem de um livro, lê um excerto da primeira página, vê que é escrito na segunda pessoa, algo raro, e já se interessa. É convidado, algum tempo depois, a fazer a resenha desse mesmo livro e aceita, claro. Você lê a obra e ela não decepciona. Pelo contrário, é uma grata surpresa. Uma escrita que inspira. E exala talento. Você imagina a todo o tempo como deve ter sido para o autor ter de se policiar para fugir ao instinto e não usar a terceira pessoa. Percebe como essa escolha foi acertada, como ela realmente faz você se colocar no “você” do personagem. Como você-leitor-Santiago vive cada angústia, cada descoberta, cada revolta, medo, tristeza e todos os et ceteras retratados. Como a catarse é mais intensa. Como, enfim, apesar de sua pouca extensão, este é um grande livro.

Você é do tipo que não gosta de dar spoiler pois acredita que de fato estraga (to spoil significa literalmente “estragar”) um pouco a apreciação da leitura. Você então pensa em como escrever uma resenha de um livro como este sem incorrer nessa via. E agora isto é você tentando: o nome do personagem principal, como já mencionou, é Santiago. É um garoto de treze anos (ao menos na primeira parte do romance) com uma peculiaridade a mais: é atirado aos braços de Morfeu contra sua vontade nos instantes mais inusitados e inesperados. Por “a mais” você quer dizer além das peculiaridades e dificuldades que todo jovem enfrenta nessa idade.

Modos inacabados de morrer (Oito e meio, 2016)

Há pais, melhores amigos, paqueras, professor-diretor, médico, cachorro. Há o poderoso inconsciente. Há violência. Há morte. Há delicadeza. E beleza. O estilo é muito bom, flui, nada com a corrente do momento. Você acha inclusive bem interessante o uso da linguagem técnica médica (um iluminador contraste) nas notas de rodapé e quase sente os vermes corroerem-lhe as entranhas. Pergunta-se até se o autor tem estudo na área. A linguagem nada, e você mergulha. Desperta. Só – espera – menos desorientado que Santi.

Você termina a leitura e pensa na melhor maneira de externá-la no papel. Decide, assim, adotar o método do escritor em questão, adentrar-lhe um pouco os meandros. E gosta. Acha-o fascinante. Só não mais que a leitura da narrativa resenhada. Você resolve terminar, portanto, recomendando-a veementemente. Leia Modos inacabados de morrer, de André Timm. Leia.

Ah, e você decide procurar as outras obras do autor e lê-las todas. E sugere também que façam todos o mesmo.

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