Byron, Bukowski e Jane Austen para falar sobre a mulher como figura inspiradora da literatura.
Toda mulher, mesmo que não confesse, sente-se maravilhada com palavras bem colocadas, declarações cuidadosamente escritas e aquela situação de ser amada por alguém. Quando o poeta a faz sua musa, derramando todo o seu romantismo sobre os poemas, sonetos, cantigas e demais criações de sua autoria apenas para conseguir tornar público todo aquele sentimento o qual habita todo o seu ser, fazendo em alguns casos o levar à loucura por não conseguir ser correspondido, nestes casos certamente a mulher se sente valorizada e, consequentemente, atraída por seu pretendente. Toda essa atmosfera de amor pode se desenrolar em infinitas possibilidades, da mesma forma que tantos poetas trabalharam e expõem suas experiências com o amor.
Voltando ao Romantismo, mais especificamente ao Byronismo podemos encontrar o fabuloso Lord Byron, com todo o seu peso e depressão ao falar não somente a respeito de seu amor não correspondido, mas também envolvendo drasticamente toda a sua vida neste manto negro do pessimismo. Nada importava já que seu amor não poderia ser vivido, contemplado e aceito. Mesmo com toda essa tristeza tal musa teve toda a sua atenção, todo o cuidado em se tornar o foco de sua vida. Romântico, não? Veja um dos poemas de Fagundes Varela que descreve bem esse aspecto:
Soneto
Eu passava na vida errante e vago
Como o nauta perdido em noite escura,
Mas tu te ergueste peregrina e pura
Como o cisne inspirado em manso lago,Beijava a onda, num soluço mago,
Das moles plumas a brilhante alvura,
E a voz ungida de eternal doçura
Roçava as nuvens em divino afago.Vi-te; e nas chamas de fervor profundo
A teus pés afoguei a mocidade
Esqueci de mim, de Deus, do mundo ! …Mas ai! Cedo Fugiste ! … da saudade,
Hoje te imploro desse amor tão fundo
Uma idéia, uma queixa, uma saudade!
Ao contrário do que pensava Bukowski, o “bêbado safado” mais querido das mulheres. Sim, no plural! Pois para ele cada uma possuía seu charme, sua beleza e sua singularidade. Como viver sem todas? Mesmo que isso lhe causasse uma confusão dos diabos tanto na cabeça quanto no coração. Abaixo um dos muitos poemas sobre o amor que o escritor nutria pelas mulheres:
Sandra
é a alta e magra
donzela do quarto
de brincos
coberta por um longo
vestidoestá sempre alta
em sapatos de salto
espírito
boletas
tragoSandra se inclina
em sua cadeira
inclina-se em direção a
Glendaleaguardo que sua cabeça
bata na maçaneta
do guarda-roupa
enquanto ela tenta
acender
um novo cigarro num
outro já quase
consumidoaos 32 ela gosta de
jovens limpos
imaculados
com rostos semelhantes ao fundo
de pires recém-compradosdepois de se vangloriar
a não mais poder
acabou me trazendo seus prêmios
para que eu desse uma olhada:
garotos nulos, loiros e silenciosos
que
a) sentam
b) levantam
c) falam
ao seu comandoàs vezes ela traz um
às vezes dois
às vezes três
para que eu os
vejaSandra fica muito bem em
vestidos longos
Sandra pode partir provavelmente
o coração de um homemespero que ela encontre
um.
E o que dizer das mulheres de Jane Austen, ora escondendo seus próprios sentimentos de seu amado por julgá-lo indigno de tal, ora jogando-se nos braços de seu amor e permitindo-se viver aquilo que lhe faz feliz:
“Como foi mesquinho meu comportamento!”, exclamou ela, “eu, que me orgulhava tanto de meu discernimento, de minhas capacidades! Eu, que tantas vezes desdenhei a generosa candura de minha irmã e gratifiquei minha vaidade com inúteis e censuráveis desconfianças. Como é humilhante essa descoberta! Mas como é justa essa humilhação! Não poderia ter agido mais cegamente, se estivesse apaixonada! Mas foi a vaidade, e não o amor, a minha loucura! Lisonjeada pela preferência de um deles e ofendida com a negligência do outro, logo no início das nossas relações cortejei a parcialidade e a ignorância e expulsei a razão. Até esse momento, eu não conhecia minha verdadeira natureza.” Trecho de Orgulho e Preconceito.
Não importa qual o período literário em questão, qual o século ou o tipo de sociedade a qual vivemos, a mulher sempre está presente em todas as questões ligadas à inspiração do homem, mesmo que isso o destrua. E gostamos de ser as musas, de sermos lembradas e capazes de bagunçar a cabeça de um poeta a tal ponto que ele necessite, loucamente, escrever sobre todos os sentimentos os quais o estão fazendo perder o sono. Ser a musa ou a vilã sempre acaba sendo muito inspirador.