O escritor inspira o músico, tal como a música inspira o escritor. São campos artísticos distintos, mas nem por isso se distanciam. Não é incomum ver referências literárias no campo musical e vice-versa. Abaixo, cinco álbuns influenciados pela literatura. Ouça (e leia) sem moderação.
1 – The rain is a handsome animal, Tin Hat (2012)
Sensualidade permeia The rain is handsome animal, sexto álbum de estúdio do quarteto Tin Hat. É a combinação perfeita: um instrumental refinado, estilo cabaré, e a voz macia de Carla Kihstedt dando vida sonora aos versos do poeta norte-americano E. E. Cummings. Segundo o selo New Amsterdam Records, cada um dos membros do grupo procurou se inteirar da obra do autor para contribuir com o trabalho. Além de Carla (que também toca violino e viola), a banda é formada por Mark Orton (violão, dobro), Ben Goldberg (clarinetes) e Rob Reich (acordeão, piano). Uma viagem que vai da música clássica, caminha pelo folk, passa pelo pop, permeia o avant garde, chega ao jazz e enche qualquer vazio com uma grande quantidade de beleza musical – e, claro, literária.
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2 – The Raven, Lou Reed (2003)
Imagine Lou Reed declamando um poema de Edgar Allan Poe. Bem, ele fez mais do que isso. O ex-Velvet Underground se desafiou a criar um álbum com versos de contos e poemas do autor, sobre o qual o músico era fã declarado. O resultado foi The Raven (O Corvo), lançado em 2003, que teve origem no espetáculo teatral POEtry (2001). Com cuidado para adaptar e reescrever alguns versos do Poe, Reed criou um ambiente intenso, lúdico, ora tomado por declamações, ora pela calmaria de uma balada, ora totalmente dedicado ao rock. A obra ainda conta com participações mais que especiais: Ornette Coleman, David Bowie, Laurie Anderson e Willem Dafoe são alguns dos artistas que contribuem ao álbum.
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https://www.youtube.com/watch?v=bS06hd9DtQ8
3 – Geidi Primes, Grimes (2010)
Geide Primes, o primeiro disco de Claire Boucher (a.k.a Grimes), vai além de categorias musicais como o eletrônico, o indie, o experimental, o synthpop e o industrial. O trabalho é inspirado no universo literário criado pelo escritor norte-americano Frank Herbert em Duna (1965). A ex-estudante de literatura russa e neurociência traz muitas faixas com títulos inspirados no clássico sci-fi, como, por exemplo, o próprio nome do álbum sendo uma referência a um planeta que teve, na história de Hebert, sua natureza destruída por militares e industrialistas. A cantora canadense tem grande apreço pela literatura fantástica e de ficção científica, sendo fã confessa da saga Harry Potter, de J.K. Rowling. A doce geek, revelação da música eletrônica, ainda é responsável pela arte do disco.
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4 – Diamond Dogs, David Bowie (1974)
“Pulgas do tamanho de ratos / chupando ratos do tamanho de gatos / e dez mil humanóides separados em pequenas tribos / cobiçam a altura dos estéreis arranha-céus”, diz a letra de Future Legend, música de abertura do álbum Diamond Dogs, do camaleão do rock, David Bowie. Nesta obra, ele evidencia sua paixão por George Orwell ao tentar reconstruir o clássico 1984 (1949), livro que trata de um futuro vigiado pelo tal do Big Brother, que aliás, é o título de uma das faixas. A tentativa de ser um disco conceitual pode não ter sido a mais feliz, mas, mesmo assim, Diamond Dogs continua sendo um bom álbum de Bowie, contendo faixas valiosas como Rebel Rebel e Sweet Thing.
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5 – Préliminaires, Iggy Pop (2009)
James Newell Osterberg, mundialmente conhecido como Iggy Pop, mergulha no jazz e na literatura francesa contemporânea ao compor a atmosfera melancólica de Préliminaires. O disco é baseado no livro A possibilidade de uma ilha (La Possibilité D’une Ile, 2006), do escritor francês Michel Houellebecq. “A literatura é muito importante para mim. O livro de Houellebecq ilustra coisas que eu tinha em mente em relação ao sexo, à morte e ao sexo oposto”, declarou o líder dos Stooges em entrevista à AFP em 2009, ano de lançamento do álbum. Ele também ressalta grandes influências literárias de sua juventude, como Burroughs, Kerouac e Ginsberg. “Literatura é como cocaína, música é como heroína: a primeira aguça o espírito, a segunda te idiotiza”, comparou. A arte do disco foi criada pela iraniana Marjane Satrapi, autora do quadrinho Persépolis (2000).
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De quebra, Iggy interpreta sua versão de Insensatez, de Tom Jobim: