Estamos acostumados a olhar o livro sob a nossa perspectiva. Geralmente, a linha dos acontecimentos sempre é a mesma: olhamos a capa, lemos o resumo, damos uma folheada no livro, olhamos outros títulos, pensamos na grana que temos disponível, fazemos uma conta mental e escolhemos qual ou quais livros levaremos. Então, nos dirigimos ao caixa e compramos. Há outras opções de compra, como a indicação de um amigo, de um professor, ou até podemos ganhar um livro, mas a perspectiva é sempre a mesma: nós escolhemos o livro. O ponto de partida é sempre do ‘maior’ para o ‘menor’, do que tem o poder de compra para o comprado, nesse caso, o livro. Entretanto, assim como está surgindo entre os apaixonados por animais uma corrente de pensadores que afirmam que não são os adotantes que escolhem seus pets, mas são os adotados que conquistam seus adotantes, há uma nova forma de pensar ou de olhar para os livros aos quais todos nós entramos em contato: eles nos escolhem.
Partindo desse ponto de vista, ao qual um livro nos escolhe para ser o seu leitor, podemos então, ao seguir essa linha de pensamento, ao dar ‘vida’ ao objeto, sob uma ótica bem fantasiosa, podemos então humanizar o livro, dar-lhe sentimento. E por que não? E se o livro tivesse sentimento? Se tivesse opinião? Se nessa onda de democratização e de direitos a todos, o livro pudesse opinar sobre o seu leitor, o que ele diria de você?
Nesse instante, alguns leitores estão fazendo um exame de consciência. Uma certa reflexão acerca de seus atos sob o livro. Como o tratam? Onde o depositam após a leitura? Fornecem ao livro um atendimento adequado? Ou simplesmente largam-no num canto qualquer, sujeitos à poeira, sol forte, sem a água sob a forma de olhares e sem a comida, sob a forma da leitura ou da releitura.
O livro morre! Sim, quando ele é largado em qualquer canto, como se fosse uma coisa qualquer, sem atenção, sem água, sem comida e sem o carinho de seus humanos leitores eles morrerem. E tem mais, morre também, o autor que deixa de ser lido.
Quando os livros choram há uma comoção não apenas na área das letras ou da literatura, mas em todas as áreas. Quando os livros choram há um luto global. Quando os livros choram significa que a beleza da palavra mágica está perdendo o seu foco, o seu ponto, a sua formosura. Quando os livros choram a humanidade fica mais ‘pobre’ de conhecimento, de generosidade, de cultura, de prazer, de entretenimento, de sorrisos e gargalhadas. Quando os livros choram as crianças, os jovens e os adultos perdem a fantasia.
Quando os livros choram a vida fica mais triste, sem luz e sem esperança.