Truman Capote, Bob Woodward e Carl Bernstein já nos provaram que jornalismo e literatura caminham de mãos dadas. Afinal, a narrativa dos fatos cotidianos é tão importante quanto a ficcional. Os jornais e revistas servem como narradores denunciadores e informantes dos fatos que interessam à população. O grande problema enfrentado pelos leitores, não somente hoje em dia, mas desde sempre, é a falta de parcialidade ou a credibilidade duvidosa apresentada por alguns desses veículos, já que muitos deles publicam aquilo que interessam a si próprios.
Notícias tendenciosas e depreciativas são vistas desde os tempos de Getúlio Vargas, como relata Lira Neto no terceiro livro da trilogia Getúlio, subtitulado Da volta pela consagração popular ao suicídio (1945-1954). Refugiado na fazenda de Santos Reis, localizada na cidade gaúcha de São Borja, Vargas, após ser deposto em 1945, foi abordado por toda sorte de jornalistas que, a mando de editores carniceiros, visitavam-no com a intenção de narrá-lo como um personagem derrotado e arredio. Esse tipo de narrativa irresponsável pode ser vista nas capas e conteúdo da revista Veja, que abandonou toda e qualquer ética jornalística em prol de seus interesses políticos, denegrindo a intelectualidade daqueles que não compartilham de sua ideologia elitista.
Em época de eleição, como a atual, muitos vociferam contra empresas informativas, alegando que elas não dão a mesma prioridade aos candidatos concorrentes ao poder quando se trata de manchetes negativas. Isso pode ser visto nos diários Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo, acusados de implantarem de maneira homeopática um evidente antipetismo que tomou conta do embate entre os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Dilma Roussef (PT). Esse estilo de narrativa é refletido nas ruas e conversas entre eleitores, que passaram a não mais respeitar a posição política do outro num regime que se diz democrático.
Mesmo os narradores opinantes desses jornais, tidos como colunistas, têm se rebelado entre si e contra as instituições nas quais trabalham, vide o recente caso envolvendo Xico Sá e a Folha de S. Paulo. O articulista escreveu texto pró-Dilma e a favor de que os veículos da imprensa revelassem o candidato escolhido como protagonista de suas narrativas diárias que foi bloqueado pelo jornal, este alegando que a conduta do jornalista iria contra o manual de redação imposto a todos os colaboradores do diário. Xico utilizou as redes sociais para narrar seu descontentamento com o que ele classifica como “imprensa burguesa”, dando a entender que poderia ser narrador heterodiegético de calamidades e falcatruas. Porém, não deu nome aos bois ou especificou de maneira exata do que falava. Em comunicado enviado à jornalista Vera Guimarães Martins, confessou estar sob efeito de ira traidora quando desabafou nas ditas redes sociais.
Como escreveu José Saramago no livro Ensaio sobre a lucidez, “os eleitores são os supremos valedores da democracia”, estando aptos a interpretarem as narrativas que mais lhe pareçam verdadeiras ou escolherem aquelas que melhor se adequam aos seus interesses. Só o uso constante de obras literárias pode mudar o ser humano e torná-lo cada vez mais perspicaz e crítico com relação às narrativas que lhe são apresentadas, não importando qual delas seja escolhida, mas que a escolha seja feita com consciência.