Nelly Novaes Coelho, intelectual e autora de um dos maiores clássicos sobre crítica da literatura brasileira

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Escritores Brasileiros do Século XX, de Nelly Novaes Coelho, é o resultado de meio século de leituras, estudos, docência universitária e de exercício da crítica literária.

nellyA professora, mestra, doutora, pesquisadora, literata, escritora, livre pensadora, sentidora, teórica lítero-cultural, Nelly Novaes Coelho poderia ser chamada de “Iluminada”, tal a corrente de sua vida, as vertentes de seus trabalhos, pesquisas, leituras, estudos, e mesmo sua visão do mundo, a excepcional noção da arte literária como um todo, uma verdadeira iluminadora de cenários lítero-poéticos; uma inventariante de incêndios íntimos, uma graciosa alma aberta nesse mundo louco de tantas obras loucas que nos mantém vivos, na alegria e na lucidez, na agonia e na arte como libertação, nas releituras e nas vidas-livros-obras que somos todos nós, e em que ela é grande, digna, iluminada, portanto.

Escritores Brasileiros do Século XX, Um Testamento Crítico (Letra Selvagem) é uma obra consagradora com 976 páginas, e Nelly Novaes Coelho escreve ensaios críticos sobre 81 nomes importantes da fauna brilhante da literatura brasileira como um todo, com uma maestria que lhe é peculiar, ela mesmo assim uma vida-livro que aqui dá-nos o prazer da leitura de tanta sapiência, do deleite do melhor do gênero, nesse seu trabalho que ainda mais a clarifica e nos orgulha de tê-la como uma personalidade fora de série e uma brilhante intelectual de alto nível.

Sobre esse clássico da literatura, o poeta Reynaldo Damazio nos diz: “O subtítulo do livro de Nelly Novaes Coelho (“Um Testamento Crítico”) talvez explique o arco e o tom do livro. Os 81 escritores brasileiros do século XX elencados e comentados pela autora revelam a diversidade e abrangência de sua trajetória de crítica e estudiosa da literatura. No lugar do corte seletivo, vertical, o livro ressalta um sentido historicamente inclusivo, buscando dar conta do cenário mais amplo possível e que, por outro lado, revela o gosto da pesquisadora, suas escolhas como leitora ao longo de meio século de atividades acadêmicas, no Brasil e no exterior. Ao lado de autores canônicos, como Mário de Andrade, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Murilo Rubião e Érico Veríssimo, estão nomes menos lembrados, injustamente, como Campos de Carvalho, Agrippino de Paula e Samuel Rawet.

Não é para se ler de uma só pegada, humanamente nem seria possível, de uma só viagem, de um só mergulho, ou mesmo de uma só leitura, muito menos ler e parar, porque você vai lendo e já guardando expectativas de apreendências para futuras novas leituras, pesquisas, saboreando todo um trabalho de peso, certamente um clássico da literatura brasileira, expondo a arquiteta do livro em sua fulgurante obra prima, alma e trabalho de décadas… Se você já leu o escritor arrolado, você vai vê-lo sob uma diferenciada ótica crítica, sabê-lo e pensá-lo melhor, com clarificações de linguagem otimamente bem elaborada, por quem é do ramo e tem talento para isso. Se você circunstancialmente não teve o prazer de conhecê-lo, por um motivo e outro, fica tendo um apanhado do quilate do mesmo, sondando assim a possível emergencial oportunidade de adquirir o livro do escritor arrolado, escolhido. De nomes de peso historial como os baluartes de nossa literatura brasileira, como Câmara Cascudo, Erico Verissimo, Graciliano ramos, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Monteiro Lobato, Oswald de Andrade e Mário de Andrade, passando por alguns nomes aqui e ali pouco reconhecidos mas de real valor, recuperando alguns literatos por uma força ou outra despaginados da história, citando de consagrados a autores novos, ou emergentes de um tempo a esta parte, passando ainda por Ariano Suassuna, Autran Dourado, Campos de Carvalho, Fernando Sabino, Hernani Donato, José J. Veiga, José Mauro de Vasconcelos, Malba Tahan, Moacyr Scliar, Nicodemos Sena, Oswaldo França Junior, Raduan Nassar e outros. E já nas primeiras páginas do belo volume belissimamente bem editado a autora enuncia: “Toda opção é difícil. Não se confunda a escolha com o que tem a ver conosco”(Álvaro Guerra”). Se “a crítica não é uma homenagem do passado, ou à verdade do outro, ela é a construção do ininteligível de nosso tempo”, disse Roland Barthes que a autora muito oportunamente também cita.

escritores_gInterrogando seu tempo, particularidades e peculiaridades narrativas e de enfoque, datando suas leituras, nominando seus pensares profundos a respeito e sobre, dando uma nova ótica nessa dimensão de criação, arte e relicário de criações, desde os mitos da literatura (imaginação, fantasia), Noelly Novaes Coelho responde a José Saramago: “É impossível viver fora da cultura e continuar pertencendo à Humanidade”. Com resenhas críticas sobre determinados livros preciosos, e com importantes dados bibliográficos do ator enunciado, Nelly Novaes Coelho vai erguendo um mosaico de obras dos século XX, dando-nos um tabuleiro dessa fase, mais vertentes, estilos, estágios e sínteses. É uma obra que vale para escritores, pesquisadores, historiadores, professores, acadêmicos, críticos, dando-nos qualitativas teorias, eloquentes enfoques e belos prismas que nos ensinam e fortalecem aprendizados salutares do oficio de escrever. Um livro que é uma verdadeira aula magna de crítica literária, de como sondar, por assim dizer, pelo estilo, pela técnica, pelo enredo/desenredo, desdizer, tácito ou metalinguagem que seja, a alma criadora do resenhado a partir de sua narrativa, construção, dos personagens, vernizes literários, luzes e cruzes. Portanto, um livro-aprendizado, mapa aberto sobre todas as línguas, falas, técnicas e construções. Sim, camaradas, um portentoso livro que pode dizer o nome: ESCRITORES BRASILEIROS DO SÉCULO XX, eis Nelly Novaes Coelho no auge de sua brilhante magnitude criativa, ela mesma, testamento de sua época, de seu tempo, de sua capacidade intelectual, pensadora, sentidora, criadora, assim e por isso mesmo, ilustradora de campos, letras, searas, canteiros, linguagens e finais felizes. Bravo!

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