Você se solidariza com o terrorismo na França, mas não com a tragédia em Mariana. Você se preocupa com a tragédia em Mariana, mas não com os famintos da África. Você pensa nos famintos da África, mas não no mendigo da sua rua. Você se apieda do mendigo, mas não do seu vizinho doente. Você lamenta pelo vizinho doente, mas não pelo seu avô solitário no asilo. Você visita seu avô, mas não liga para os seus pais/filhos/amigos. Você acha que o mundo está todo errado, mas não enxerga seus próprios defeitos. Você sabe dos seus defeitos, mas não faz nada para mudar. Você não pode fazer nada. Você não pode salvar o mundo. Você não consegue nem salvar a si mesmo.
Mas você pode (tentar) ser alguém melhor. Não é fácil. É um exercício constante, diário, de autoconhecimento e empatia. Comece pelo nível básico. Cumprimente o porteiro. Agradeça ao ascensorista. Jogue o lixo na lixeira. Respeite os seus colegas, mesmo que, ou principalmente quando você não concorda com eles. Ouça seu amigo; apenas ouça – na dúvida do que responder, o abrace. Você não pode apoiar todas as causas da humanidade. Mas pode fazer a diferença no seu dia a dia. Adianta sim, acredite. Isso vai surtir efeito na sua vida e na de quem convive com você. Com o tempo, a tendência é que você se sinta mais leve, pleno, que a vida se torne menos dura, os relacionamentos mais sinceros. Você não estará livre de problemas, porém saberá lidar com eles de maneira mais consciente. Evitará discussões inúteis, brigas à toa, será menos tolerante à bobagem improdutiva e mais tolerante à diferença produtiva.
Então, antes de pensar nas desgraças do mundo, pense em você. No seu cotidiano. Nas pequenas tragédias que você mesmo causa, sem necessidade. O que você está fazendo para ser parte dessa humanidade que defende? Porque o mais importante, meu amigo, não é a tragédia X ou Y, é o instinto humano que pulsa em todos nós e que, de alguma forma, nos iguala.