Neobeatniks, Armai-vos uns aos outros – A contracultura que agoniza, mas não morre

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Ciganos marítimos de Nova Iorque – símbolos da contracultura na atualidade

“Só te visito, inferno/
Com a certeza/
De poder fugir…”
– Rafael Arraíz Lucca

William S. Burroughs, Allen Ginsberg e Jack Kerouac, entre outros, que tinham a loucura como uma montanha; talvez apenas (e isso não é pouco, camaradas humanistas do caos etílico) continuassem um visionário Walt Whitman como pós-modernos aos seus jeitos e fuligens, e a própria contracorrente de um modo estrambólico de ser e viver no confuso confeito sócio-cultural da época em crise. Fé na tábua, fé na estrada e a difícil, grande e dura viagem de existir plenamente (um carpe diem ao modo deles); a tal estrada de tijolos amarelos de um rock bem posterior cantaria, mas, inaturalmente muito além de uma Shangri-la, e, também por isso mesmo muito além do farol do fim do mundo. Afirmação e pergunta. Periga ver. Periga ler. Cronópios?

Hoje, os tachados de neomalditos (e pelo mundo da web viçam aos montes), a triste informalidade efêmera da modernidade tecnológica, infovias tantãs/também muito além do acelerador de partículas, vazando incompletudes humanas, cada um por si e vacilos com grifes. Jecas rangendo redes. Falando sério: os cabeludos hippies, desde lá, com tudo isso, depois, caras pálidas, também alguns poucos ficaram muito ricos montando no poder de venderem o avesso do avesso do inverso do haver-ser; (se prostituíram de alguma maneira aqui e ali), ou morreram de overdose, no dizer Cazuza-profano entre os rimbauds de baiúcas risca-facas enveredados em descaminhos historiais, trilhas do cut-up, adrenalina hedonista e jorro neural fragmentado, comportamental porra-louca, incêndios letrais-estradeiros, ângulos obtusos; hard bop, drogas (viagens joyceanas e/ou freudianas). A fuga pode ser um despistamento necessário, sobrevivencial, válvula de escape, vertente e respiradouro. Clamor da espécie. Gates-Qualquer-Coisa-Window rogai por nosotros?

Mochilas nas costas, vazando horizontes. Rascunhos às pencas. Folhas na relva continuadas. Fora da ordem e fora da lei. Malucos Incertezas. Um novo self e uma nova guelra. Metamorfoses ambulantes, mas não “Proust-trutas”. Tratados como idiotas sagraciais e paradoxalmente profetas do absinto após-calipsos. A transcendência marginal, decomposições, suicídios-drops (à prestações), artes em pastilhas sem molduras. Invenções do inexistente. O reagente ao agente laranja antecipado nas laranjas mecânicas das multicidas viajações de todos os tipos que (dissecaram cadáveres estruturais decadentes) e disseram não ao não, parafraseando Caetano Veloso, aquele da tropicália, hoje, retrô ou quase isso, nada nos bolsos e nas mãos, ou não. Hendrix ainda reina de alguma forma. Vocês decidem. Janis Joplin à parte? Desde aquele tempo existem outros. Perguntem ao pó. O amor louco e sem regras, almas perdidas, corações nas trevas. Desluz. Sutras sudários.

Os Anos 60 e o movimento beat contestador (filhos de imigrantes europeus – das faces contraditórias de uma Europa civilização/opressão/carnegão estrambólico), numa cloaca América Blefe também de áfricas utópicas, panteras negras a parte, de muito ouro e pouco pão, todos e tantos herdeiros inconformados dessa uma/mesma América brega-cafona-mano-negra; a américa-cloaca do Macarthismo infame e leviano, filhotes-descendentes dos Anos 50 de medo e opressão.

hippies
Hippies in Washington Square Park,1968

A realidade de pernas pro ar, que, por exemplo, agora faz, pelos chorumes sociais – purgações e fermentos além Coxionhas-daslu – emergir neobeatniks, com papo deles, os ideais deles, à margem de uma nova desordem econômica mundial (o fim das utopias e o começo de um hitlerismo no neoliberalismo neovitoriano amoral e inumano made in Tatcher-Cow), quando os neotransgressores sonham com um humanismo de resultados, porque o funesto e nefasto capital após-calipso-blues-bar foi revelado e levado a bancarrota, o que era lei de oferta e procura (livre mercado) virou núcleo de máfias e quadrilhas (em Sampa-BR, as privatizações-roubos da impune geração tucano-neoliberal-do-DEMO), porque a hecatombe pré-Obama mostrou os circos desalmados, que, por fim, disse o que estava de datado fato historial: o lucro privado e o prejuízo estatal. Alguém aí sabe realmente o que está acontecendo, e ainda está para acontecer como sequela? Alguém aí por acaso sabe cadê a alta grana das privatarias (privatizações-roubos e depois o neoescravismo neoliberal) de Samparaguai made in Pinóquio de Chuchu? A gente nunKassab…

Que capitalhordismo americanalhado é esse? Procura-se. Os países emergentes, de um operário a um padre e um índio, ditadores aqui e ali, que serão pesados na balança e as inclusões sociais como trombetas auferindo as faltas e carências de todos os tipos. Bezerros de ouro abundam, com cincerros contemporâneos do i-pod, laptop ao mp9, tablet ou cocaine-tablet. Antes era o tal “Mondo Cane”. Hoje o mundo está em pane. Os tempos tenebrosos (para citar Bertold Brecht). Aquele “cérebro-barrinha-de-cereal” não aceita mais a gordura letral de uma cultura que já deu o que tinha de dar. O consumo é estético, não de conteúdo humanista. Narciso cego. Édipo manco. Aquela “barriga de tanquinho” da musa televisiva mãe-solteira não demonstra que aceita afeto-grude. Aquele “espírito de skate” (rápido e rasteiro) não quer saber de questionários, reflexões, pitos por comportamentos inadvertidos, o hormônio viça diferente nesses tempos. A atual Geração Teflon: esquenta ideias rápidas, passageiramente, não quer fluxo de apreendimentos sistematizados, não quer conferir pra ver, não adere, por isso Geração Teflon. Ai de ti Planeta Água.

Que ressurjam os neo-beatniks da forma que for – que sejam revistos os retratados e continuados assim de novo instigadores, rebeldes, agitadores, perturbadores de desordem pública. Cronópios neles? Trombadinha é a fome! Talvez se aproveite muita coisa. Que se assomem inaugurando novas vertentes de insurgências no ventre do neobeat por um mundo diferenciado (nem melhor e nem pior, seria querer muito da humanagente), mas, pelo menos, sem o status que o frio dos podres poderes globalizados no pior sentido de, até porque, OXI, os loucos herdarão a terra e a natureza certamente reinventará novos pirados alternativos para confundir os PHDeuses do lucro-fóssil, entre asnonautas virtuais com poderio dialético sem vezo sócio-comunitário; entre culturas de almanaque que acomodam corações e mentes, cabeças e posturas falso-chiques e fakes de neo-richs. Já pensou?

Pensemos, irmãos, pensemos, sem humanofobia: será que a consciência marginal é um drible da evolução darwinista numa sociedade de embuste, de hipócritas, empanturrada de infovias e ensandecidas de solidões com máscaras? No mundo atual, torçamos pela Teoria de Gaia (quem nos salvará de nós?), contra os antros de antes – e os sobreviventes do antes – contra as artes portáteis como adrenalina das Periferias S/A, as culturas de araque no rap-arame, os artistas que se prostituem para o que der e vier, o qualquer-lucro-qualquer-coisa-isso-mesmo, enturmados no quarto poder (mídia corrupta para engabelar incautos) e quinto poder (a violência banalizada mais uma impunidade por atacado principalmente de Sampa que destrói coisas belas) no flanco do sucateamento proposital do suspeitosamente incompetente estado em embuste neoliberal de velhacos ególatras. ODEIOTUDOISSO. Quem sobreviverá ao quê no devir de néscios? Está ruim? Esperem pra ver o pior no futuro. Ser Humano? Ser um Mano.

1970-hippies-cursos-cpt

Saquem o lance. Tirem o tubo. Tirem a CPU. Tirem o roteador. Wifi o cate. Façam o download do ente-ser. Periga ver! Apaguem as luzes. O mangue sangra. A periferia S/A feito cinturão de miséria sitia as grandes metrópoles de cimento armado e pesadas drogas fazem cabecinhas na alta burguesia dominante, os negros querendo dar sua cota de dor aos brancos, e vai por aí o banzo-blues-mantras-fados amalgamados. Talvez, sonhemos tanto outros Walt Whitmans tropicais, e dos becos muito mal inconformados além dos Raps rococós formem uma geração que rompam ciclos e círculos viciados, contestando vício-clips, boêmios-manés saradinhos, promovendo novas produções da subcultura que começou a sair dos escombros desde a época da Guerra Fria, contestando bombas atônitas, numa importante rebelião contra o homem-sistema, promovendo outros quantos descobrimentos das falcatruas dos governos que dopam gerações e jovens, porque, afinal, a manada parece que quer sempre estar sob o jugo da reprodução do sistema (e das injustiças do sistema), e as criações marginais que levam a pensar são um perigo, dão o que falar. Alegrai-vos descendentes de Woodstock, mas o sonho não acabou. Não ainda. Não agora. Não nesse momento. Periga ler. Ave Claudio Willer.

Os que vão sobreviver são saúvas. Paz e Amor, pois a esperança ainda vinga e toca, e cria, e soma, range a rede. O Long-Play vencerá o i-pod? Saravá Amy Winehouse, a contracultura, qualquer meio dela, é uma maneira maldita (neobendita?) de incendiar o caos da falsa ordem estabelecida, “caostólico”, da também sulamérica Cloaca; às incompreendidas sulaméricas com dívidas sociais gritantes, mais rebentos de levantes na Europa em crise de valores morais e estéticos, a conturbada Ásia quase em chamas e sonhando o tsunami que varrerá o Japão do mapa, o ainda o pobre leste europeu se degradando com levantes e derramas tribais, o próprio oriente médio satanizado de todas as crenças e interesses radicais escusos.

Que os Beatniks revistos ou novos, emergentes que sejam, venham nos armar de suas libertações, andanças e cantagonias.

Os rebeldes com causa agonizam mas não morrem.

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