No rastro de F. Scott Fitzgerald

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A infância e adolescência na pequena cidade de St. Paul, no Minesotta, pode ter sido a fonte de inspiração para a criação das histórias e personagens de F. Scott Fitzgerald

F. Scott Fitzgerald
F. Scott Fitzgerald

Não é de hoje que fãs de escritores procuram os rastros e pistas das histórias de autores favoritos. Visitar as casas-museu de Agatha Christie, Charles Dickens, George Orwell, Jane Austen, William Shakespeare ou até mesmo de personagens, como é o caso de Sherlock Holmes, que tem um endereço em Londres dedicado ao detetive, é um programa que atrai milhares de pessoas.

Mas não basta visitar as residências, é claro, tem que conhecer todos os passos desses artistas e suas notáveis criações. Francis Scott Key Fitzgerald e a infância do romancista nascido no estado norte-americano do Minnesota estão sendo esmiuçadas e têm sido uma maneira de vislumbrar de onde surgiram as inspirações para obras como O Grande Gatsby, muito antes de o escritor viver a grande Era do Jazz, passar uma temporada em Paris ou frequentar festas badaladas em Nova York, como indica uma reportagem sobre o assunto publicada no jornal The New York Times.

Sempre associado às grandes metrópoles e vida boêmia, Fitzgerald nasceu em uma cidade chamada de St. Paul que, no início do século 20, era considerada uma região abastada e confortável, se comparada a outros locais da vizinhança. Esse tipo de comparação e diferença entre classes sociais aparecem com força em personagens como Amory Blaine, do primeiro romance do autor, This Side of Paradise, assim como nas percepções de Nick Carraway, de O Grande Gatsby.

O escritor teve muitas idas e vindas para St. Paul ao longo da vida. Ele nasceu na cidade, porém, só começou a morar no local aos oito anos, depois que o pai perdeu um emprego em Nova York. A primeira história do autor foi escrita ainda na adolescência e publicada em uma revista, quando estava na St. Paul Academy. Deixou a cidade e voltou aos 22 anos, quando terminou o primeiro romance. Permaneceu em St. Paul até 1922, quando ele, a esposa Zelda, e a filha, Scottie, trocaram o local por uma grande metrópole.

A cidade exibe orgulhosa hoje os pontos importantes da vida do grande filho de St. Paul. Na avenida Laurel, há um conjunto de casas enfileiradas em estilo vitoriano e o escritor nasceu no número 481; os avós moraram no 294, e a família Fitzgerald passou uma temporada no endereço, após retornar da cidade de Buffalo. Mas é a F. Scott Fitzgerald House, que fica na Avenida Summit, 599, a mais importante referência da vida do escritor, porque foi lá que escreveu o primeiro romance.

A relação de Fitzgerald com a cidade de St. Paul começa a aparecer em “Winter Dreams”, considerado um proto-Gatsby. O escritor discorre sobre um garoto que cresceu obcecado pelo ricaço Judy Jones. Embora não seja autobiográfica, a história, aparentemente, demonstra a relação do escritor com sua cidade natal.

Na mesma avenida Summit, ainda há o University Club – ou U Club, como é chamado pelos locais – onde Scott e Zelda costumavam dançar e tomar um drinque após o casal ganhar um pouco de dinheiro com a publicação e o sucesso de This side of paradise. “F. Scott Fitzgerald bebia aqui”, informa aos visitantes uma grande foto na parede do local. O mesmo ambiente é citado em Winter Dreams.

Mas os estabelecimentos da cidade adoram ostentar que o escritor dedicou-se a escrever seus livros em algum local da vizinhança onde ele morou.

O bar Commodore seria um desses. Lá, Fitzgerald teria aproveitando seus drinques, mesmo nos tempos da Lei Seca. Os drinques, é claro, eram produzidos com bebidas fornecidas por contrabandistas. A decoração art déco pode ter sido referência para a capa e a fonte das letras do título O grande Gatsby. A arquitetura e os detalhes do lugar foram destruídos em um grande incêndio, em 1978. Porém, agora, o bar, que esteve em decadência por várias décadas, recupera o prestígio e glória com o renovado interesse pelo local. Para Fitzgerald, o charme da casa estava em seus frequentadores e fornecedores de contrabando, que traziam os barris de bebidas do Canadá e atravessavam o país até o Meio-Oeste americano. Havia entre o Commodore e uma cafeteria da cidade, a W.A. Frost and Company, um túnel subterrâneo, utilizado como rota de contrabandistas para bebidas, charutos e cigarros. Parte desse trajeto foi recuperado e hoje abriga um inusitado bar de vinhos – só que agora totalmente legalizado.

Outro local de destaque em St. Paul é o Fitzgerald Theater, que abriga uma imensa foto do autor em uma grande marquise. Há ainda uma estátua do romancista no Rice Park, com uma placa que diz: “Em honra de um jovem que se tornou um escritor nesta cidade”.

Fitzgerald escreveu em O Grande Gatsby:

“E, no entanto, bem alto acima da cidade, nossa linha de janelas amareladas deve ter contribuído com sua parcela de mistério para o observador casual que passasse pelas ruas que pouco a pouco caíam na penumbra; eu o imaginava olhando para cima e fantasiando o que se passava por trás daquelas janelas. Eu estava dentro e fora, simultaneamente encantado e repelido pela inesgotável variedade de vida.”

Serão essas palavras reminiscências da vida Fitzgerald em St. Paul?

 

Referência:

FITZGERALD, F. Scott. O Grande Gatsby.  São Palo: Penguin, Companhia, 2011.

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