A ansiedade da nossa época pode ser convertida em energia positiva para aproveitarmos ao máximo a vida
Eu devia ler mais. Escrever mais. Ver mais filmes. Mas você já lê tanto, já vê tantos filmes, já escreve tanta coisa, os outros dizem, espantados. Entendam. Nunca é o suficiente. Nunca é bom o suficiente, grande o suficiente, intenso o suficiente. Apenas quem tem essa rigidez crítica consigo mesmo, essa necessidade absurda de querer sempre mais da vida, essa fome infinita de conhecimento, pode compreender a angústia de ter que lidar com a limitação. Em primeiro lugar, do nosso corpo, posto que cansamos, adoecemos e, por fim, inevitavelmente, morremos. Depois, do nosso tempo, já atribulado com os afazeres cotidianos, rotina menos sofrida quando trabalhamos com o que nos agrada, porém sempre restritiva do nosso lazer.
Essa limitação nos impõe escolhas terríveis, dolorosas, do tipo ai, meu Deus, eu queria ler esse livro, mas já tem pelo menos uns dez na fila, preciso descansar, estou perdendo tempo no Facebook por quê, eu não devia, poderia estar estudando, só que não tenho energia, minha vontade é, cadê minha vontade, vamos tomar mais café, dormir é para os fracos, tá maluco, não tô, não tô conseguindo lidar. A ansiedade é própria da nossa época, provocada pela aceleração do ritmo de vida na modernidade, o que nos dá a impressão de que as horas voam, e pelo excesso de estímulos, sonoros, visuais, quase nos tornando insensíveis. Num cenário de múltiplas opções, a escolha é cada vez mais difícil, o que gera angústia, insegurança, será que eu fiz direito, será que entendi certo, será que é isso mesmo que quero pra minha vida?
Calma. Respira. O mundo não vai acabar hoje (e, mesmo que acabe, não existe nada que você possa fazer a respeito). Consideremos a perspectiva positiva dessa inquietação. Se nada nunca é o suficiente, tudo sempre pode melhorar. Um mundo de possibilidades se abre à nossa frente, para ser explorado, sonhado, vivido, até onde formos capazes. Verdade, nunca vai ser o suficiente. Mas pode ser bom o suficiente. E isso basta.