O circo, livro de contos de Mario Filipe Cavalcanti, mostra os bastidores dos espetáculos que fazem parte do imaginário coletivo
O que é apresentado em um picadeiro encanta ao público, causa risos, é um show preparado minuciosamente para levar as pessoas a um mundo mágico. Essa parte todos conhecem bem. O circo, de Mario Filipe Cavalcanti, conta outra história, a dos bastidores, e mostra que o espetáculo da vida é tão surpreendente quanto o universo de fantasia que encontramos sob as lonas: “[…] a vida não deixa de ser aquele velho espetáculo onde a gente interpreta, interpreta, interpreta e depois se aposenta […] (p.16).
Mario Filipe Cavalcanti é advogado, escritor e colaborador do Homo Literatus. Lançou O circo durante o mês de setembro de 2015, em Recife (PE). Aos 23 anos, ele também já publicou diversas obras, entre elas, Comédias de enganos e Caninos Amarelos, esta última vencedora do III Prêmio Pernambuco de Literatura.
Em O circo, o autor traz uma série de contos que inserem o leitor no mundo dos artistas que se apresentam ao “respeitável público”, revelando seus anseios e angústias, além de ressaltar o lado humano dessas figuras que fazem parte do imaginário coletivo. Ao mesmo tempo, Mario fala sobre os espectadores, uma multidão ávida por uma válvula de escape para os problemas cotidianos.
As histórias são duras, fortemente críticas (provavelmente os leitores que conservam afeição à arte circense sentirão mais o choque), no entanto, os textos são bastante belos pelos sentimentos que expressam, pela escrita zelosa e, especialmente, pela profundidade das tramas, com passagens como a do palhaço desiludido:
“Uma vez escutou enquanto se arrumava no camarim uma senhora cheia da grana dizer pra amiga: ‘Vamos, logo, Margot, não podemos perder o início, quero tirar das palhaçadas desses caras a motivação que aquele escritório infame não me dá mais, afinal, palhaço só serve pra isso, né?!’. E, no fim, era isso, pensava, seu trabalho era embalar as angústias desses monstrinhos” (p.26).
Mario Filipe enriqueceu sua obra com diversas referências à música erudita, às artes plásticas, à filosofia, ao texto bíblico e até mesmo à mitologia: “Emily era a representação em carne e osso de um dia frio ao som de Chopin […]” (p. 49).
O circo surpreende, choca, estimula a empatia, faz pensar e, pela brevidade (81 páginas), deixa uma vontade de saber mais, ouvir mais histórias, conhecer melhor a visão do autor sobre as pessoas que dedicam suas vidas aos risos alheios, indivíduos que realmente se entregam à arte.
Ao terminar o livro, uma certeza acompanhará o leitor: “Até no riso, o coração sente dor” (p. 25).
***
Confira o áudio de uma entrevista do Mario Filipe Cavalcanti a respeito do livro O circo, para a rádio da UFPE:
https://soundcloud.com/not-cias-do-campus/noticias-docampus21082015-tarde?utm_source=soundcloud&utm_campaign=share&utm_medium=googleplus
***
Referência:
CAVALCANTI, Mario Filipe. O circo. recife: EdUfpe, 2015.