O Cortiço, de Aluísio de Azevedo

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Para dar continuidade à série voltada para os vestibulandos, o Homo Literatus escolheu outro grande clássico da literatura nacional: O Cortiço, de Aluísio de Azevedo.

Na edição anterior, tratamos do grande clássico machadiano Dom Casmurro, que pertence à escola realista da literatura, que preza a visão cotidiana como de fato é. Um dos grandes expoentes desse pensamento é o naturalismo, período literário que se debruça na ideia do homem como animal, sujeito a características hereditárias e comportamentos diretamente relacionados ao meio social ao qual vive. Essa visão científica do ser humano baseia-se principalmente nas teorias evolucionistas de Charles Darwin e ao movimento positivista, que colocava na ciência a crença de uma sociedade melhor e mais inteligente.

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Cortiço em ilustração de Luigi Critone

Chegado ao Brasil no século XIX, o movimento naturalista teve como principal autor o maranhense Aluísio de Azevedo. Em sua mais famosa obra, o livro O Cortiço, Aluísio procura denunciar a realidade escandalosa do Centro do Rio de Janeiro, onde cortiços e estalagens eram opções de moradia para as classes sociais mais baixas.

O romance tem como personagem principal o português João Romão, que abusa da malandragem para conseguir enriquecer. Dono de uma venda, uma pedreira e de um cortiço, João alia-se à Bertoleza, negra dona de um velho. Para conquistá-la, Romão forja uma alforria e entrega-a à amante. Dessa forma, o português consegue cada vez mais e mais acumular riquezas e expandir seus negócios, o que gradativamente dá ao personagem principal a ascensão social que tanto sonhou. Esse desejo por sempre querer mais é impulsionado pela presença de Miranda, comerciante próspero vizinho de João Romão, que trava uma disputa inconsciente com Romão, que luta mais e mais para ultrapassar o “adversário”.

Nesse comportamento em particular podemos fazer uma bela análise da proposta naturalista defendida por Aluísio de Azevedo. A competição animalesca entre João Romão e Miranda parece ser algo intrínseco aos personagens, uma vez que não é controlada por ambos. Esse caráter zoomórfico representa a intenção do movimento: colocar o homem no mesmo campo biológico que os demais animais, ainda que o mesmo seja diferenciado pela sua capacidade de raciocínio.

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Outra característica lógica do naturalismo é o uso da linguagem coloquial. Dentro dos cortiços, o predomínio era de pessoas simples com poucos recursos intelectuais, o que torna os diálogos repletos de marcas de oralidade e palavras cotidianas.

Apesar de João Romão ser considerado o personagem principal da história, pode-se dizer que a grande estrela do livro é o próprio cortiço. Era naquele espaço mundano que se centrava a maior parte da história e que evidenciava as disparidades da sociedade brasileira da época, não tão diferentes da nossa atual. O cortiço era a mais sincera representação e aplicação da teoria naturalista da animalidade existente dentro dos seres humanos.

A obra, ao contrário do esperado, foi bastante aclamada pelo público da época. O romance possui um caráter até certo ponto documental da realidade carioca, ainda que haja a ficcionalidade característica da literatura. Nele, é exposta a dualidade platônica dos pares antitéticos da sociedade. Mais do que isso: com uma profunda análise, é possível desmascarar a relação de interdependência entre os aparentemente elementos opostos.

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