O editor que comprou J.K Rowling sem saber

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Na semana passada, falei do novo livro de Rowling, que foi lançado sobre um pseudônimo. No dia em que postei, não se sabia ainda sobre qual editora iria publicar o livro no Brasil, na verdade, ainda se pensava que nenhuma editora detinha os direitos. No final da semana, a Rocco, que já havia publicado a série Harry Potter no país, anunciou que iria ser responsável também pela nova obra.

No sábado, o jornal O Globo publicou uma matéria com o editor responsável pela compra. Paulo Rocco comprou o livro no início do ano, sem nem imaginar de quem ele realmente era. Segundo ele, a compra se deu devido a história ser de qualidade. (Confira aqui a matéria original)

Bem que Paulo Rocco, diretor da editora que leva seu sobrenome, achou estranhas as exigências do contrato daquele escritor estreante. Robert Galbraith, autor de “The cuckoo’s calling”, era representado na negociação pelo inglês Neil Blair, o mesmo agente literário de J. K. Rowling. E o agente, diz Rocco, era minucioso demais com as cláusulas sobre os royalties das vendas. O editor ironizou a situação com a equipe:

— Estão tratando esse livro como se fosse da J. K. Rowling!

E era. A revelação veio no domingo passado: Robert Galbraith, na verdade, é o pseudônimo que a autora inglesa usou para publicar o romance policial comprado pela editora carioca. Rocco soube por um amigo, e lembrou que o livro já era seu. Na segunda-feira, pediu para a equipe guardar segredo, mesmo diante dos boatos que já circulavam no mercado. A revelação oficial só veio na sexta-feira. Como se a notícia não pudesse ficar melhor, ele foi informado pelo agente que “The cuckoo’s calling”, ainda sem título em português, é o primeiro de uma série, cujo segundo volume deve sair já no ano que vem. O primeiro, promete o editor, sai por aqui em novembro, com tradução de Ryta Vinagre, a mesma tradutora de “Crepúsculo”.

— Foi engraçado. Comprei o livro porque achei a história boa, ia lançá-lo só em 2014. Não nos disseram quantos livros a série vai ter — diz o editor carioca.

A negociação começou em janeiro, por e-mail. A Blair Partnership, agência de Neil Blair, escreveu aos editores brasileiros, pedindo que eles fizessem ofertas pela obra até às 18h do dia 26 de fevereiro. Rocco diz que fez uma oferta cara para um autor estreante. Mas o preço acabou saindo “muito barato” para uma autora do porte de J. K. Rowling, diz o editor, sem revelar cifras.

— Só posso dizer que fizemos uma oferta bem significativa para um autor desconhecido — diz Rocco.

A agência literária da escritora procurou editoras brasileiras que haviam participado do leilão de “Morte súbita”, ano passado, no qual a Rocco perdeu a autora para a Ediouro. Algumas rejeitaram a obra. A Record foi uma delas.

Como Robert Galbraith era um desconhecido, a agência argumentava que a obra já havia sido vendida para vários países: Estados Unidos, França, Alemanha, Holanda e Rússia. A Rocco levou o livro na primeira oferta.

— Eu não tive exclusividade. Acho que eles perceberam que eu acreditei no livro sem saber quem era o autor — diz Rocco.

No mercado livreiro internacional, comprar um autor best-seller barato é algo impensável. Com a fusão de grandes grupos editoriais e a crescente competição entre editoras, o preço dos direitos de publicação costuma ser inflacionado. A regra é autores como Rowling irem a leilão. Muitas vezes, o livro é leiloado nas feiras internacionais antes mesmo de ser escrito. É uma loteria.

De 3 mil para 100 mil cópias

Por isso, a história tem tudo para virar um dos grandes causos do mercado editorial brasileiro. Paulo Rocco talvez tenha virado o único editor a ganhar na loteria duas vezes com o mesmo escritor. Vale lembrar que, no Brasil, foi ele quem comprou os direitos da saga “Harry Potter”, antes de ela fazer sucesso. A série já vendeu mais de quatro milhões de livros em todo o país. A expectativa é que “The cuckoo’s calling” seja um novo sucesso.

— Íamos fazer tiragem de três mil. Agora vou fazer no mínimo cem mil — diz Rocco.

A Blair Partnership controla de perto as ações das editoras com seus livros. Até o comunicado à imprensa com o anúncio precisou ser traduzido para o inglês e enviado para a aprovação da agência, que mudou o título do documento.

A caixa de mensagens da editora já está cheia de recados de fãs de Rowling. E eles têm uma lista de exigências: papel pólen, capa dura e, se possível, que o lançamento seja antecipado para ontem.

Agora é esperar o lançamento e o título em português.

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