Fui defenestrado da cidade de São Paulo, SP para a cidade de Picos, PI. Do frio para o calor. Enquanto não me defenestram para a cidade de Fortaleza, CE, fiquem com duas pequenas crônicas.
Abraço Redentor
Coletivos passam lotados. Sardinhas enlatadas. Indo, todos os dias, para todos os lugares e lugar nenhum. Em busca do comer, do beber, do vestir, do sorrir, do fumar, do brincar, do remédio do dia seguinte. Vão sem falar, sem dá bom dia, sem pedir desculpa por pisar no pé. Vão e se perdem no vão do metrô. O dinheiro quer comprar o amor. Ou, ao menos, pagar o plano de saúde da mulher. E assim são muitas Marias e Zés que não olham nos olhos e tomam litros de café para aguentar o rojão. E falam que o país está melhor e que tudo vai dar pé. E continuam de van, de barco, de avião ou de metrô lotado. Mas do que eu estou falando fazendo poema em forma de crônica? Onde eu quero chegar? Se o amor passou lotado e não parou quando eu dei com a mão? Uma mão cheia de dedos que só pedia um abraço redentor. Que deixou ao lado da mulher amada que dormia quando saiu às três e meia para o trabalho um bilhete que dizia: “Sou um Cristo Redentor para os seus abraços!”.
São Paulo
Preciso mudar-me, já não suporto a vista da minha janela. Daqui vejo todo o centro da cidade. Da cidade que não pára de crescer. Cresce a cada segundo. Cresce enquanto estou dormindo. Cresce a cada pensamento. Cresce enquanto transito no oitavo andar desse edifício. Um edifício quase tão velho quanto à cidade.
Mas, hoje, abro a janela e grito. Berro no coração da cidade. Berro porque já não suporto o que quero. E quero mais do que escrever para sites. Quero o meu rosto em close, por duas horas, num filme de Andy Warhol. Quero dois gramas de pó, diariamente, no meu breakfast. Quero chegar em casa, as seis, cansado da jornada de trabalho na repartição pública, e encontrar Camille Paglia, de roupas íntimas, a minha espera.