O Invasor e sua atualidade, quase 15 anos depois

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O que torna o romance O invasor, de Marçal Aquino, tão interessante mesmo tantos anos depois da sua publicação?

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O romance O invasor, de Marçal Aquino, narra a saga de dois sócios de uma empreiteira, Ivan e Alaor. Os dois resolvem matar o terceiro sócio, Estevão, para entrarem em um esquema de propina e vantagens em licitações do governo federal – intermediado por um ex-colega de faculdade, chamado Rangel. Para alcançarem o objetivo, contratam um assassino profissional. Este, após executar o serviço, acaba se inserindo gradualmente na rotina dos dois contratantes, inclusive se relacionando com a filha do sócio assassinado. Conforme a presença do assassino cresce na rotina dos sócios, Ivan se desespera e mergulha progressivamente em uma paranoia de perseguição e traição, a partir da qual deixa de confiar nas pessoas, com exceção de Paula, sua amante.

Como a narração é feita pelo próprio Ivan, é possível perceber, através de sua perspectiva, o crescimento de sua desconfiança em relação à sucessão de fatos que se desenrolam. No decorrer da história, Ivan progride para um isolamento na medida em que Alaor se relaciona mais profundamente com o assassino.

Anísio surge no romance como um matador profissional e que deveria, conforme a expectativa de Ivan, manter-se distante dos negócios da empreiteira. Todavia, Anísio reaparece com o argumento de que será o segurança da construtora, desta forma, fazendo parte dos negócios de Ivan e Alaor. Na sequência da narrativa, é possível perceber, através da relação de Anísio com Mariana e a sua postura na empresa, que ele age como se estivesse ascendendo socialmente, já que a filha de Estevão é a herdeira direta da fortuna do engenheiro assassinado.

O enredo do romance poderia ter sido escrito e publicado nos tempos atuais, já que o contexto político está tomado por escândalos de corrupção, discussões entre coxinhas e petralhas etc. Porém, a escrita da narrativa foi iniciada por Marçal em 1997 e finalizada já no início dos anos 2000, quando o filme, dirigido por Beto Brant (e que conta com uma atuação visceral do então ator estreante Paulo Miklos), estava para ser lançado, sendo publicado em 2002.

Um dos subtextos da narrativa, e o que mais chama a atenção, é o preço a ser pago por causa da ambição financeira: com uma grande possibilidade de ganhar dinheiro ilicitamente, os engenheiros vão para as últimas consequências, mas não conseguem segurar o rojão chamado Anísio. Alaor segura a onda e consegue domar e conquistar a confiança do assassino intruso, mas Ivan se perde na paranoia e nos cagaços constantes que o homicida provoca – soma-se à panela de pressão o casamento fracassado, assim, o narrador tem como válvula de escape a amante e a pouca esperança em sair da situação planejando outro golpe.

O esquema de fraude de licitações para a construtora é mostrada em dois momentos, no início do romance, e isso já basta para revelar que o enredo tem como mola propulsora a corrupção, que desemboca em assassinatos, extorsão e personagens coagidos moralmente. A narração vertiginosa e claustrofóbica de Ivan prende o leitor, e a cada capítulo uma camada nebulosa é clareada, tornando o romance um suspense  instigante. Outro ponto interessante é que Anísio surge no romance no primeiro capítulo, no momento da negociação do assassinato com os sócios, e reaparece somente no sétimo capítulo – a partir daí, ele cresce na narrativa e, malandramente, se insere cada vez mais no ambiente corporativo, em uma vida mais abastada. Portanto, Anísio, através da coação e da inserção forçadas, ascende socialmente, enquanto Ivan, paranoico, medroso e descontrolado, se isola, a cada capítulo, de seu mundo.

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