O Leitor e Seus Escritores

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Os bons escritores devem ser, no mínimo, excelentes leitores. Essa premissa, acompanhadora assídua de quem tem a pretensão de escrever livros, também tem a função de esclarecer que o ofício do escritor exige tempo. Um tempo que não se limita à produção da obra, e sim a todo acesso intelectual que o escritor deve ter para resgatar diante de suas enérgicas leituras, pontos que irão gerar temáticas e determinarão ritmo e estilo no desenvolvimento de seu trabalho. Não deve ser segredo para ninguém que a literatura se molda em grande parte por roubos de outras histórias em maiores ou menores proporções. Sim, roubos mesmo, no sentido mais grosseiro que pode ser atribuído a palavra. Concordo com Nelson Rodrigues quando ele afirma que não é com bons sentimentos que se faz literatura.

O ponto em que quero chegar é o da infinidade de uma boa obra literária. Não da infinidade da obra em si, mas sim da capacidade artística que ela tem de gerar incontáveis interpretações e reafirmar a existência do homem; moldá-lo através dos séculos. É por isso que considero o trabalho do leitor belo e gratificante por si só. Não aprovo discursos que posicionam a escrita como uma transcendência da leitura. A escrita é uma transcendência do caráter. A leitura, por sua conta, é um elemento de transformação indispensável para a sociedade. Se não fosse por ela, a escrita se encerraria em si mesma.

Uma das relações mais intensas e verdadeiras que constato na sociedade é a do escritor com o seus leitores. Uma poligamia absoluta. Pra ser mais específico, uma grande orgia, já que bons leitores raramente se contentam com dois ou três escritores.

Enquanto tiver direito de viver vou também me oferecer à obrigação de atuar dos dois lados do campo. Como leitor, espero ser sempre ávido, curioso e atento. Como escritor, espero ser crítico, impertinente e disciplinado.

Também espero, como produtor de textos, contar com a participação modificadora de diversos leitores.

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