O nascimento de um leitor

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O que pode formar um leitor?

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Não falta quem repita os velhos clichês de que o hábito da leitura é uma prática positiva, que ler estimula a criatividade, desenvolve o senso crítico, principalmente para jovens em fase de formação.

A escola é uma das instituições que ajuda a proliferar tais clichês; logo nos primeiros anos escolares, colégios de todo o país resolvem indicar algum clássico de Machado de Assis, o patrono da literatura nacional.

Segundo muitos, o ícone Machado é um dos responsáveis por aterrorizar alunos de diversas idades por conta de sua linguagem densa, culminando para que esses nunca mais voltem a segurar em suas mãos um livro sequer de literatura no decorrer de suas vidas. Mera especulação.

Contudo, nos últimos anos, por meio de programas de incentivos à leitura, têm ocorrido sensíveis mudanças neste quadro com índices de mais livros lidos anualmente por parte de cada cidadão. Além do ensino formal, blogs e canais no YouTube dedicados inteiramente ao universo dos livros têm incentivado gente jovem a se interessar por literatura, inclusive clássicos.

Com isso, recordo-me dos meus tempos de ginásio: uma das professoras de Língua Portuguesa nos propôs como atividade do ano letivo que lêssemos um livro de um autor nacional de nossa escolha. Sendo assim, um escolheu Érico Veríssimo, outro Jorge Amado, e eu A viuvinha, de José de Alencar.

Contrariando as estatísticas, talvez eu tenha sido um dos poucos a ter lido inteiro e gostado de uma obra desse porte aos 12 anos de idade.

Muitos anos depois, entre idas e vindas, me tornei um leitor assíduo por diversas outras causas, a escola em que estudei, de alguma forma foi a responsável por fazer acender um sinal de “alerta” em minha mente dizendo que ler era importante. Eu entendi aquilo de fato.

A partir do momento que encaramos a leitura como uma necessidade fora de qualquer cliché, nada nos escapa, as referências vão surgindo e a gente se vê como numa caça ao adentrar o labirinto metafísico das Letras. Daí, encaramos Tolstói, Sartre, Camus, Beauvoir, Nietzsche e Graciliano. Então, relemos o tal de Machado de Assis com outros olhos, não mais com os olhos do ensino médio.

Contudo, não falta quem diga que quem lê demais vive em um mundo paralelo, muitos pregam o abandono dos livros para se viver a “realidade”, encarnam a ideia mítica do intelectual ermitão, longe do mundo. Nada mais errado.

Se nas manifestações de maio de 1968 na França, o povo pregava que era necessário abandonar um pouco as paredes frias da academia e construir a História na prática e na rua, por aqui, talvez devêssemos fazer o contrário e não pular etapas.

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