‘O Oitavo Selo’, o quase romance de Heloisa Seixas

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Quiséramos nós que muito do que é publicado hoje no Brasil fosse um quase romance como este livro

Heloísa Seixas / divulgação
Heloísa Seixas / divulgação

O que faz um escritor definir seu próprio livro como um quase romance?  Pode ser humildade, uma confissão, já na capa do livro, de que o escritor reconhece que faltou pouco para que sua obra seja colocada na prateleira dos romances, mas o presente livro é assim classificado porque fica no limite entre ficção e não ficção. Tem muito de realidade para ser um romance ou muito de literatura para ser uma biografia? Quem poderá decidir?

O Oitavo Selo, de Heloisa Seixas (2014, Cosac Naify) é literatura da melhor qualidade. Quiséramos nós que muito do que é publicado hoje no Brasil fosse um quase romance como este livro. A escritora narra os momentos em que seu marido, o escritor Ruy Castro, encarou a própria morte num livro recheado de referências musicais, literárias e cinematográficas. A maior delas ao filme O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman.

No filme, um cavaleiro é surpreendido pela morte que veio buscá-lo e, para ganhar tempo, ele propõe um jogo de xadrez. O sumário revela os sete primeiros selos e para conhecer o oitavo é preciso ler o livro, o que não é nenhum sacrifício. Os selos representam as diferentes ocasiões que o homem “joga xadrez com a morte” tentando ganhar tempo, inclusive para escrever os próprios livros. Os enfrentamentos giram em torno de vícios e doenças graves.

oitavo-seloAlém da linguagem rica e uma estrutura de texto pouco comum, que não atrapalha a leitura, é interessante acompanhar cada “partida de xadrez” entre o homem e a morte, num livro em que não falta emoção, compaixão e um pouco de suspense. Uma história que nos faz pensar no nosso próprio fim, que virá, ou no fim das pessoas que amamos. Acompanhamos a atitude do homem ao passar pelos selos da morte e ver as manobras de que se utiliza para reverter o jogo quando o seu rei está em xeque, ajudado por outras peças ao seu redor, como a rainha, Heloisa Seixas.

Não é preciso conhecer Ruy Castro ou sua obra para entender este livro. O protagonista pode ser encarado apenas como um personagem de ficção, mas durante a leitura você vai querer procurar um foto de Ruy Castro na internet e colocar alguns dos seus livros na sua lista de leitura, sem dúvidas.

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