O que buscamos ao ler um texto sobre livros

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Qual é a sua expectativa ao ler um texto sobre um livro?

foto: Visual Hunt
foto: Visual Hunt

Qual é a sua expectativa ao ler um texto sobre um livro?

O exercício constante de escrever sobre livros e ler a produção de quem faz isso sempre me leva a olhar, ou pelo menos tentar, quantas formas diferentes podem existir para se falar de uma obra literária.

No caso das leituras, vi recursos que usei e até enjoei. Me parece normal que algumas pessoas, às vezes em começo de atividade ou por força do tempo, recorram a formatos mais ‘lineares’ de resenha, a informação simples e conduzida até o fim, de vez em quando recheando o texto de citações à própria obra, a outras que influenciaram aquela em questão, até deixando o texto com uma linguagem fria de tão impessoal, quando não mero acúmulo de informações, ou ainda imitando claramente o estilo do livro analisado, quase se escondendo atrás das palavras alheias.

Às vezes existe uma migalha do que pode ser desenvolvido com muita prática e, se o autor perceber e lapidar isso, transformar uma característica do texto em sua voz autoral. Pode ser a linguagem solta feito uma crônica, ligar o tema a uma notícia, referências diretas a uma cultura específica pela qual o autor tenha bastante afeto, falar de obras distintas com temas ou personagens parecidos, o que for; quem escreve pode moldar o texto numa boa para explicar sua ideia – valendo até experiências particulares, se combinarem com o tema.

Nesse sentido me lembro de um ensaio de Italo Calvino em seu Porque ler os Clássicos. Na maioria dos textos lê-se Calvino leitor-crítico, tendo na linguagem transparente e livre de tecnicismos uma de suas características. É o tom de um professor que faz uma análise profunda de todos os aspectos do livro, sem subestimar o aluno tampouco o deixar perdido por não ter analisado a obra com o mesmo afinco.

Em Guia à Chartreuse para uso dos novos leitores, sobre o Cartuxa de Parma de Stendhal, há um dos raros momentos de Calvino ‘pessoa’: “Será que me tornei leitor da Chartreuse para toda a vida por pertencer a uma geração que viveu a guerra a cataclismos políticos na juventude? Mas nas lembranças pessoais, menos livres e serenas, dominam as dissonâncias e os estridores, não aquela música que arrebata”. Em breve referência à vida do autor de Porque ler os Clássicos e Cidades Invisíveis, desconfio que sim, pois o próprio Calvino teve seus dias de luta extra-literária (leia-se: política). Não escrevo este texto para comentar sobre a vida dele, seria tema para outro dia, mas apenas como menção a esse trecho onde o crítico dá mais espaço ao leitor, este subjetivo ao extremo, às vezes longe de cargas estudantis e potencialmente à deriva até encontrar uma leitura com a qual se identifique. Essa exposição do quanto a vida particular influencia na leitura e na escrita não torna o texto ‘bom’ ou ‘ruim’, é apenas algo que pode fazer parte da escrita e, por consequência, aproximar possíveis leitores à produção sobre livros de um autor.

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