O que diria George Orwell se visse o BBB?

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Eis um tema riquíssimo, com farto material para estudos e análises da psicologia e da sociologia. O fenômeno dos reality shows, e um deles, o de maior audiência por aqui, o Big Brother Brasil com uma nova edição, como em todo início de ano. O nome Big Brother (Grande Irmão), é uma alusão ao livro “1984” de George Orwell, publicado em 1949, onde os cidadãos são vigiados por um Estado totalitário através de um monitor de TV. Esta fórmula de entretenimento, como outras que fazem sucesso entre as massas e atrai anunciantes, foi copiada do exterior e talvez em alguns países faça até mais sucesso que no Brasil, pois há todo tipo de reality show, alguns bem bizarros.

Então, novamente perguntamos o que faz alguém aceitar ficar confinado durante determinado tempo, expondo sua vida e sua intimidade em rede nacional? Somente a possibilidade de ganhar dinheiro e alguma fama, em geral, passageira? Na mesma linha de pensamento, o que faria alguém se deixar filmar ou fotografar a si mesmo fazendo sexo, tornando-se vulnerável ao julgamento dos hipócritas de plantão? E ainda, o que faz com que tenhamos esse prazer mórbido em olhar? Somos todos “voyeurs”?

Se mergulharmos nos meandros da mente humana, os motivos nem são assim tão difíceis de entender. Hoje quase todo mundo se expõe de alguma forma e todo mundo quer olhar. Mas será este um fenômeno contemporâneo, ou somente facilitado pela tecnologia? Podemos considerar a tecnologia como a grande vilã dos males modernos ou será a forma como se faz uso dela? Quem sabe apenas exacerbou aquele antigo vício tão humano, a vaidade? Afinal a vaidade está presente em todos nós, em menor ou maior grau, e também naquele grau mais doentio. Mas será que estamos passando por uma epidemia de narcisismo? A mídia e a publicidade descobriram há tempos como fazer uso da vaidade, quanto maior ela for, maior arma se torna contra nós mesmos.

Vejamos o que há em comum entre o romance de ficção de George Orwell e os reality shows, além da referência ao Grande Irmão. Como as décadas vêm demonstrando, é perfeitamente possível controlar as pessoas através dos meios de comunicação de massa. É desagradável ser chamado de “massa”, a palavra carrega uma conotação de alguma coisa sem identidade,  manipulável, e de fato é.  Não se trata de desprezo ao que é popular, mas a cultura popular fora desse contexto, há muito perdeu espaço. O povo nas sociedades contemporâneas foi reduzido a condição de massa. Mas o que querem hoje as massas? Quem é hoje o “Grande Irmão”?

As massas, claro, querem ascender socialmente, mas a ascensão social é mais do que ter apenas dinheiro. Preciso mostrar na televisão, nas revistas, nas redes sociais, enfim quero ter fama, virar celebridade como os ídolos que a mídia me apresenta , e pago o “preço” que for necessário para isso. O “Grande Irmão” é invisível, está pulverizado, mas continua onipresente e onisciente, e sabe tudo sobre nós, permite e incentiva o exercício do “voyeurismo”, enquanto espiamos distraímos nossa atenção, mas que ninguém esqueça quem está de verdade no controle.

E vamos à nova edição do BBB!

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Formada em Ciências Sociais e Políticas, de natureza curiosa, acredita que não se deve ficar preso aos conceitos acadêmicos. Não é especialista em nada, mas se interessa por muitas coisas, em especial por tudo que cerca a Vida no planeta, seja humana ou não. Gosta das palavras, sejam elas em prosa ou verso.

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