Orgasmos Literários – Sarau Facamolada – Juliano Rodrigues

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Para nós leitores nada mais grato do que vivenciar um orgasmo literário, posso contar hoje que tive uma série deles, e alguns vocês podem vivenciar comigo. Tudo começou quando recebi a notícia de um Sarau, o Facamolada, eu e o Vilto já estávamos preocupados em organizar um em Blumenau, pois não víamos esta cena por lá, houveram alguns entraves e nosso plano foi adiado. Ali já começou aquele olhar gostoso de provocação.

Pouco tempo depois da notícia enviei uma mensagem perguntando se eu poderia recitar algum texto. Obtive a grata resposta que sim, carícias rolando soltas então. Quando vi meu nome já estava no cartaz, aí a nudez já estava lá, em breve haveria um explícito.

Neste meio tempo entre o anúncio do sarau e a concretização da cena, recebemos uma grata notícia da Livraria Cultura, que “Toda Poesia”, obra completa do Paulo Leminski ultrapassou os 50 tons de qualquer coisa nos livros mais vendidos. Isto foi um marco na retomada da cena poética em nosso país, em breve haverão outros! Este foi um momento maravilhoso, pois vi que minha busca e nosso sonho manifesto em a “morte à escrita” está acontecendo! Gozei!

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Voltando ao Sarau, então fomos lá eu e o Vilto, de cara já fui falar com o organizador, que com um tom de irreverência falou: Você não vai ler todo um tratado né? Fiquei quietinho na minha sobre isso, já almejando ler uns 2 poemas. O local estava lindo, havia sido montado um palco muito bonito que podem conferir na foto acima, desprezem o modelo na composição do cenário, mas não a sua alegria. tinha lá também exposições de quadros com pinturas diversas, assim como fotos e poemas de grandes imortais brasileiros, tais como: Quintana, Rubem Alves, Adélia Prado, Cecília Meireles… e outros,  os poemas eram impressos e poderiam ser levados pelo público. Quando cheguei os do Quintana já estavam em extinção, por motivos óbvios. Ali aquela transa gostosa já havia iniciado, como é bom estar num ambiente acolhedor e rico culturalmente, cena rara em Blumenau, só havia sentido isto duas vezes antes, uma por malabares e outra por um evangelismo multicultural, pintura, música, teatro certa vez.

Neste clima maravilhoso, conseguimos um bom lugar para desfrutarmos do evento, nas primeiras fileiras. Então Tuco Egg, apresentador e organizador do evento da início aos trabalhos, eram sempre declamados em torno de 2 ou 3 poemas, ali já começaram os orgasmos foram recitados poemas com muita propriedade, poemas lindos e edificantes, ou horrendos que denunciavam as mazelas sociais, e estava eu lá como um voyeur me deleitando com a cena, aprendendo a como recitar devidamente, vi maestria nas apresentações. Gozei!

No intervalo entre as declamações o dueto Baixo e Voz de Sérgio Pereira e Marivone Lobo tomava conta da cena, um repertório esplêndido, canções que marcam a nossa MPB e canções de adoração que nos levavam a transcender, além disso nunca havia visto a grandeza do contra-baixo de tal forma, se retiram dele uma série de acordes antes inimagináveis, um simples dueto, entoava sons tão completos e divinos, sem demoras ou enrolações: Gozei!

Eis que chegou a minha vez, e aquele nervosismo natural, eu era o mais “verde” dentre os que subiram ao palco, de cara me atrapalhei com o microfone, sim, tenho meu lado pateta, após o cara da mesa ter rapidamente me socorrido iniciei minha fala, eu agora nu, precisava expor algo a platéia, eis que comecei demonstrando a grandeza profissional de cada um dos que estiveram no palco, uma inclusive realiza diariamente o sonho de viver de poesia, imaginem só, na atual conjuntura ela se sustenta financeiramente com suas próprias poesias, é claro que eu já havia gozado com ela, voltando, falei também da banda que glorifica com propriedade… então dei conta de falar sobre minha busca, em declarar que haverá um renascimento da poesia no cenário editorial, mesmo que os editores digam que não, pois a poesia é viva e eficaz!! Gozei!! E a platéia comigo!! Houveram aplausos, após recitei, não o fiz com a maestria com que os outros fizeram, mas fui sincero e o povo me acolheu de forma salutar. O poema foi “Ensaio sobre a fidelidade” que será postado em breve aqui no Homo Literatus, desci do palco para contemplar as próximas apresentações.

Chuvarada

Num dia frio e chuvoso é preciso sair de casa.
Expor o corpo quentinho à molhadeira da chuvarada.

É inverno, seu Santos dorme na rua, corpo extendido no chão duro, ninguém sabe porque. Ninguém nem quer saber.

É inverno e eu cozinho pinhão na panela de ferro, o sofá vazio, a casa quentinha e vazia.

É inverno lá fora, e sempre será. Tanta gente vagando no frio, mesmo que seja verão.

A chuvarada castiga, o inverno não passa.
Entra ano, sai ano, o inverno não passa.
E eu aqui, casa quentinha, café na mesa.

Por quê não ponho a cara pra fora e trago de lá um corpo encharcado?
Por quê, se tenho a casa seca e quentinha, não seco e aqueço meu irmão?

Hoje é frio e chuvoso e sei que preciso sair de casa.

Tuco Egg

O Poema acima foi um dos ápices do Sarau Facamolada, de autoria do apresentador e organizador, ele nos leva a romper com o comodismo, precisamos sair de casa. Lamentei, gozei.

Houveram outros poemas de crítica social, outros sobre coisas belas como o sabiá, teve até poema de improviso, o que me fez relembrar as trovas lá do Sul, bem, maravilhado… Gozei!

Perguntaram se eu tinha outro poema, sim, o tinha, percebi que não havia sido falado sobre romantismo, então visei representar esta área da poesia que tanto amamos, ano passado vivi algo que está em baixa hoje em dia, que “saiu de moda”, mas que é um processo muito belo, um dos ápices do namoro, cortejar. Mas como a maioria dos amores de poetas teve um fim, no entanto restou este poema:

Cortejar

Oh! Quão terrível e maravilhoso
é o cortejar
a ilustre arte de amar
sem tocar

Te ver e conversar
sentir e aproximar
sem poder
te beijar

Oh! Saborosa espera
és cruel e fascinante
como o cheiro de comida
a um faminto amante

Enquanto espero
a dúvida me atormenta
e em meio aos sonhos
a esperança acalenta

Enfim nada mais resta
a não ser amar
o ódio de amar
te esperar

Juliano Rodrigues

Para minha surpresa pude perceber que haviam outros românticos na platéia, em especial mulheres, que demonstraram amar este ato, através de seus lindos sorrisos. Não gozei, cortejei!

O Sarau encerrou com Adélia Prado, nada melhor do que ela para tal. Gozei! Após tivemos um momento de bater papo.

Epílogo: como eu já havia combinado fui visitar o sofá da sala do Vilto, sem sono e atucanado, fui visitar a biblioteca dele, eis que buscava em meio aos títulos algo de meu interesse, após muita procura vi lá um gaudério, um tal de Tchékhov, mas me aficcionei pelo título “Um homem extraordinário”, O Vilto havia me recomendado outras coisas,  chegou a me recomendar outro título do mesmo autor,mas temos gostos muito diferentes, insisti, e me apaixonei, com uma escrita edificante e um clima doce e bucólico, me rendi a este maravilhoso autor radicado na Rússia, antes de dormir de forma amável… gozei!

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