Caninos Amarelados, de Mario Filipe Cavalcanti, é uma análise filosófica sobre o tudo e o nada em que o ser humano vive
Um observador atento, analisando o objeto em seus mínimos detalhes, sempre certeiro na analise, conseguindo captar suas emoções e delírios, andando sempre na linha entre o tudo e o nada, isso que Mario Filipe Cavalcanti apresenta nos contos de Caninos Amarelados. Contos rápidos que carregam de forma certeira uma analise filosófica do ser humano.
Mario Felipe Cavalcanti é natural de Recife, advogado e escritor. Autor dos livros de contos Comédia de enganos (Penalux, 2013) – semifinalista no Prêmio Sesc de Literatura 2014 – O Circo ( EdUFPE, 2015) e Morte e vida e outros contos (EdUFPE, no prelo).
Em sua obra Caninos Amarelados, Cavalcanti apanha situações banais – como um garoto que explora seu próprio corpo pela primeira vez – que se tornam muito profundas quando narrada pelo autor, ele desenvolve bem seus personagens dando-os motivações, emoções, dotando-os de razão, levando-os a conclusão de que tudo não passa de um grande nada e “[…] A fome move o mundo e o ser que não tem dente que tenha um bico pontudo. Se a fome move o mundo, a nossa maior finalidade é matar a fome. Essa é a nossa finalidade por trás de qualquer coisa. A finalidade por trás de um beijo ou mesmo um prato de picanha om feijão e arroz. O ser que não atinge a sua real finalidade é que é inócuo.” (p.62-63)
A fome está presente na maioria dos contos, é ela que move os personagens, é o combustível do mundo em Caninos Amarelados. Essa fome que existe dentro de cada ser humano, que muitas vezes é escondida por máscaras sociais, mas na obra ela é espraiada de forma direta, porém bastante aprofundada. O ser humano é esse animal com fome, sempre procurando preencher o buraco negro de sua existência, sempre procurando ter mais nesse mundo que é a harmonia do caos.
A obra flui de maneira leve e direta, sempre com reflexões sobre a condição ser humano. Em alguns contos o autor volta sempre para um ponto do texto, para que a partir desse mesmo ponto possa narrar outros momentos do personagem, o que poderia ser um empecilho na leitura em nada prejudica sua fluidez.
Em suas 106 páginas o leitor é levado a refletir sua própria condição como pessoa, a pensar nos seus atos, a refletir e chegar à conclusão de que o que foi narrado é de fato muito real e que muitas vezes passa despercebido, pois essa fome, que o autor fala, nos leva a viver de uma forma mecânica.
Caninos Amarelados é uma obra afiada, direta, pra quem tem fome de tudo, é um animal com dentes amarelos, porém bastante amolados, que ataca de forma rápida e mortal.