Os conceitos de literatura e autoria ao longo do tempo

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Hoje em dia parece óbvio o significado de literatura e a função do escritor. Ainda que a literatura em si seja um conceito difícil de definir precisamente, qualquer pessoa letrada sabe reconhecer uma obra literária. Porém, o próprio uso da palavra “literatura” tem origem imprecisa.

Homem lendo, 1881, Vicent van Gogh
Homem lendo (1881), Vicent van Gogh

 

Etimologicamente, o termo “literatura” vem do latim “litteratura”, que remete a “littera” (letra). É, portanto, a arte de escrever, de lidar com as palavras. Na academia tradicional, é sinônimo de “belas letras”, remetendo à alta cultura, até se popularizar, especialmente após a invenção da imprensa.

Aristóteles, quando descreve os gêneros literários em sua Arte Poética, chama literatura de poesia, derivado de “poiesis”, que significa criação. É curioso que, mais tarde, a palavra “poesia” se tornaria o próprio gênero, por oposição à prosa. Também é curioso que a literatura já existisse e fosse estudada pela crítica antes mesmo de receber essa nomenclatura. Aristóteles foi o pioneiro em sua definição: ele considera toda criação literária como uma imitação a qual pode ser compreendida como uma espécie de recriação. A partir de então, o conceito varia, principalmente com os estilos de época, mas a ideia permanece a mesma: literatura é, basicamente, ficção por escrito. Nos dicionários contemporâneos, a palavra também é usada para definir um conjunto de textos específicos de uma área, como a literatura médica, por exemplo.

Para que existam obras literárias, é preciso que autores as componham. A noção de autoria, no entanto, é moderna. Antigamente, os textos eram escritos coletivamente, pois representavam as histórias dos povos. Por isso existe ainda certa polêmica em torno da existência de Homero, autor da Ilíada e da Odisseia. Há críticos que julgam Homero como uma figura simbólica, considerando que essas epopeias teriam sido criações em conjunto, sem uma autoria precisa. Outros defendem que há provas da existência do autor e características de estilo pessoal nas obras.

A valorização da figura do autor e do estilo próprio só veio com força durante o Romantismo. No Classicismo, escola anterior, o escritor usufruía de pouquíssima liberdade, devendo obedecer às regras da boa composição. O Romantismo reconheceu conceitos bastante atuais, como os direitos autorais, a questão da inspiração, da genialidade e da idolatria. O escritor passava a ser, assim, o autêntico gênio criador, sensível à magia das palavras e dos sentimentos. No Modernismo, esse mito é desfeito. Nem escravo da regra nem escravo da inspiração: o escritor é um homem comum, que produz literatura como forma de expressão artística. Técnica e talento, “engenho e arte”, como definia Camões, são importantes para a produção literária.

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