A poesia de Gregorio Duvivier e um pouco da sua trajetória.
Poemas de amor, certamente. E de big bang, certeiros. “Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama”, imagéticos e bem cheirosos, como se tivessem acabado de sair do banho, lavar as mão com o detergente de maçã, ou manuseado o amaciante de lavanda.
Gregorio Duvivier entrou pela porta dos fundos de fininho, deixando os sapatos sujos do lado de fora, no corredor, e se sentou à mesa da cozinha com seus leitores para tomar um café requentado sem reclamar, ainda achando graça da goteira próxima ao fogão – chovia, naquele dia.
É com essa proximidade que a escrita poética de Duvivier te inspira a ir traçando, e devorando, todas as linhas até descobrir o que está por trás de seu segundo livro, Ligue os Pontos (Companhia das Letras), obra que, como anunciado na capa, contém poemas de amor e big bang.
Mais conhecido por ser um dos realizadores do coletivo Porta dos Fundos, o ator, comediante, roteirista, formado em Letras pela PUC-Rio, iniciou sua trajetória literária já há alguns anos, tendo seus poemas publicados em periódicos de grande relevância, além de seu livro de estreia, lançado em 2008, A partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora (Editora 7Letras), também de poemas.
“querer tudo é não querer
nada é perceber que nada
é pior que tudo e qualquer
coisa é melhor que nada
é melhor do que não querer
tudo é querer uma coisa só
pois para ser feliz é preciso
querer uma coisa só e saber
deitar ao lado dela – quieto.”
Em Ligue os Pontos, a “semântica Gregoriana” se estabelece e se sustenta por si só. Duvivier explorou tanto a liberdade da linguagem que parece prestes a dispensá-la a qualquer momento – seus poemas sobressaem a estrutura dos versos, tendo rosto, gosto e, principalmente, continuidade, no imaginário do leitor.
Não há formalismo, a preocupação com a métrica ou com a pontuação não se faz presente, e o mais incrível: a ausência delas só enriquece os versos, que se aproximam da prosa, dos diálogos teatrais, ou mesmo os confessionais, sem se afastar do poema. Gregorio fala poeticamente sobre o amor como o amor fala a si mesmo.
Como registrado na dedicatória, a compilação de poemas amorosos é para sua namorada, e parceira de infinitos trabalhos, Clarice Falcão, de quem, segundo ele, partiu o estímulo para publicá-los. E fica a impressão de termos sentado no sofá com eles, em pleno domingo, na Gávea, para assistir algum programa na televisão.
Uma obra íntima, corriqueira, apressada – de segunda a sexta, o amor mal tem tempo para a hora do almoço – mas ainda assim, presente ao ponto de deixar os lençóis da cama quentes, ao final do último poema.
Ligue os Pontos
Gregorio Duvivier
Companhia das Letras