Uma das melhores obras da literatura mundial, O retrato de Dorian Gray é um apontamento direto para a hipocrisia da sociedade inglesa, que vivia uma realidade de aparências para encobertar vidas lascivas e maldosas. Em nome das aparências, Dorian Gray se corrompe e faz um pacto para ser belo para sempre. Carregado de homoafetividade, o romance tem relação íntima com a biografia do autor.
Wilde era homossexual, o que, na Inglaterra do final de século 19, era criminoso. Não apenas moralmente condenável: ser gay te mandava para uma cela, tal qual um ladrão ou assassino. É dispensável discorrer sobre o quanto é lamentável esse tipo de pensamento ter existido, mas é fundamental pontuar que Wilde só foi preso depois de ter se relacionado com o filho de um nobre. Isto é, a sociedade inglesa só fazia cumprir com rigor as leis que regulavam moral e bons costumes se atingisse a reputação das classes mais altas. Afinal, os demais eram irrelevantes.
Quando foi preso, Wilde já era reconhecido como escritor e o escândalo abalou muito sua carreira. Quando saiu, Dorian Gray sofreu alterações e foi publicado novamente, mais sombrio e amargo. O que estudiosos relatam é que o ambiente hostil da cadeia sugou a energia e vitalidade de Oscar Wilde, tornando sua personalidade mais sombria e amarga.
Esse sentimento de frustração aparece fortemente em Dorian Gray, que vive a vida pensando apenas nas aparências e chega ao final dela completamente deteriorado pelos valores sociais torpes da época. Dorian é ruminado pela sociedade e, quando cuspido, é deformado e feio. Seu retrato é também o retrato do que Wilde via nas pessoas.
É provável que aí esteja a grandeza da obra: em conseguir transformar a própria experiência de vida como pária em uma sociedade hipócrita e superficial em arte singular e perfurante.