Outros 21 romances do século XXI

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Mais 21 romances de escritores brasileiros, publicados a partir de 1 de janeiro de 2001, que você precisa conhecer

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Devido ao grande número de leitores que reagiram à primeira lista que fiz aqui no ano passado sobre 21 romances importantes da literatura brasileira no século XXI, decidi fazer uma segunda lista. Ficamos imensamente honrados que, a partir do exemplo publicado aqui no site, vários leitores foram fazendo as próprias listas, dialogando sobre livros que deveriam ter entrado e outros que não deveriam ali estar. Fato é que as listas são sempre polêmicas, pois partem da opinião pessoal de cada um, que é uma soma entre gosto pessoal e entendimento pessoal sobre o que é deveras uma obra de arte.

Para quem perdeu a primeira lista, podem acessá-la aqui. Lá também verão as regras que estabeleci para a sua elaboração. Reitero mais uma vez que essa lista foi feita a partir de minhas leituras e não pretende se estabelecer como uma verdade absoluta ou cânone da literatura brasileira contemporânea. É , entre outros, apenas um norte para quem quer ler algo que foi publicado a pouco tempo e não sabe o que escolher. Espero que gostem.

 

1. Galileia – Ronaldo Correia de Brito

Ronaldo Correia de Brito

Bela e triste história de três primos, amigos na infância, que se reencontram quando adultos para voltar à fazenda Galileia, do patriarca Raimundo Caetano que agoniza seus dias finais na terra. Adonias, uma espécie de alter ego do escritor, é o protagonista e narrador dessa história que narra uma tentativa de retorno às origens em meio à incomunicabilidade entre conhecidos que se tornaram estranhos em terra outrora fértil.

 

2. Dias Perfeitos – Raphael Montes

Thriller policial impressionante do jovem Raphael Montes que já havia impressionado crítica e público com outros bons livros. Téo, protagonista do romance, é um solitário estudante de medicina que vive com sua mãe paraplégica. Tem apenas uma amiga: um cadáver que disseca nas aulas de anatomia. Curiosamente, esse misantropo se apaixona por Clarice, uma jovem de espírito libertário que deseja se tornar roteirista de cinema. A aproximação entre os dois conduz um relacionamento que levará à obsessão e ao crime. É de se ler da primeira à última página em um só fôlego.

 

3. Diário da Queda – Michel Laub

Michel Laub

Romance profundamente reflexivo do ótimo escritor brasileiro Michel Laub. O protagonista passa a história em rememorações de sua vida, sobretudo da adolescência. Ao mesmo tempo em que se recorda de um fato marcante do passado: o bar mitzvá de um amigo, festa na qual esse amigo se fere gravemente deixando marcas para o resto da vida, o personagem principal resgata a história de seu povo, o judeu, suas marcas e sofrimentos durante a história, bem como sua relação conturbada com o pai e com seu avô, sobrevivente de Auschwitz.

 

4. Divórcio – Ricardo Lísias

Romance autoficcional de Lísias que rendeu enormes repercussões, publicado entre outros dois romances do mesmo gênero: O céu dos suicidas e Delegado Tobias. O personagem principal passa por uma fase depressiva após o término de seu curto casamento. O pivô da separação foi um diário mantido por sua mulher que o narrador-protagonista teria encontrado em seu quarto. Diário cujo conteúdo apontava para uma falta de afeto de sua mulher para com seu marido, bem como uma suposta traição.

 

5. Habitante Irreal – Paulo Scott

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Após passar anos de militância e fé política na esquerda, Paulo, protagonista homônimo do autor, passa por uma desilusão política. Na volta a Porto Alegre, após uma viagem ao sul do estado para uma convenção do partido, na qual apresenta oficialmente o seu desligamento, Paulo encontra uma índia adolescente na beira da estrada durante um dia de forte chuva. Sua nova causa na vida é ajudar essa índia, entender o seu mundo, inseri-la na sua sociedade e proporcionar a ela e a sua família a ter uma vida melhor. Mal sabia ele que esse encontro mudaria sua vida, a da índia e causaria impacto em tantas outras vidas ao redor deles.

 

6. Opisanie Swiata – Verônica Stigger

Título que causa estranheza inicialmente: vem polonês “descrição do mundo”. O primeiro romance da escritora foi indicado ao Portugal Telecom e venceu o prêmio da Biblioteca Nacional como melhor obra do ano em que foi publicado. O texto, fragmentado e nonsense que inquieta drasticamente o leitor, conta a história de Opalka que vem ao Brasil de navio após receber uma carta do seu filho, doente terminal.

 

7. A Chave de Casa – Tatiana Salem Levy

Tatiana Salem Levy

O romance, inscrito dentro do que se chama “escritas de si”, conta a história de uma neta de judeus turcos que nasceu no Brasil. Ao descobrir que uma pessoa da família ainda possui a chave da casa de quando deixou a Turquia, a protagonista decide viajar ao pais de seus antepassados, em posse dessa mesma chave, em um misto de retorno às origens e descoberta de um mundo desconhecido. Mais um ótimo desses dramas familiares.

 

8. A triste história do leopardo-das-neves – Joca Reiners Terron

Narrado por um filho de um judeu já idoso e que sofre de demência, o romance está cheio de histórias que entremeiam magnificamente, apesar de aparentemente parecer nonsense. Entre elas está a fábula do leopardo das neves, figura misantropa que decide, após conselhos de uma cobra, espiar os seres humanos para ver como é divertido vê-los sofrendo.

 

9. Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos – Ana Paula Maia

Ana Paula Maia

Na verdade são duas novelas e não um romance, mas elas se completam na temática e acabam tendo força para entrar nessa lista. Na primeira história, vemos a vida de funcionários de um abatedouro de porcos em uma região periférica do Rio de Janeiro. A naturalidade da violência – não falo do abate – dentro do cotidiano é comparável a Tarantino no seu clássico Pulp Fiction. A única distração para uma vida desgraçada e sem perspectivas é apostar nas rinhas de cachorros. Na segunda, a crueza e falta de perspectiva é a mesma. O que muda é o cenário: de um abatedouro de porcos para o serviço de coleta de lixo.

 

10. Rebentar – Rafael Gallo

Primeiro romance do vencedor do prêmio SESC de literatura em 2012 na categoria contos com o livro Reveillon e outras histórias é daqueles livros que te levam à profundidade de uma dor que você nunca imaginou poder sentir uma vez na vida. É a história de Ângela que perdeu seu filho em uma galeria quando ele tinha cinco anos de idade. Depois de trinta anos de sofrimento em busca do filho, ela decide encerrar a busca, tendo que enfrentar a realidade e uma sociedade que não deixa que ela desista de seu único filho.

 

11. Só faltou o título – Reginaldo Pujol Filho

Reginaldo Pujol Filho

Edmundo é o personagem principal do romance, que trabalha esporadicamente como revisor de textos. Um escritor fracassado que recebe inúmeras negativas do mercado editorial. Consegue lançar apenas um livro, publicado por uma editora de “esquina” que não comercializa o livro e ainda o obriga a pagar toda a publicação. Edmundo vocifera contra tudo e contra todos: sua esposa, sua família pequeno-burguesa, os pés-rapados que tomam cerveja com ele no bar próximo a sua casa, as editoras, os editores, os escritores do momento e quem mais lhe atravessar o caminho. É uma metralhadora giratória. Apesar de vociferar quase sempre sem razão, Edmundo mostra o lado cruel do mercado editorial brasileiro.

 

12. Sérgio Y. vai à América – Alexandre Vidal Porto

Sérgio Y. vem de uma família abastada e aparentemente é um jovem comum com problemas naturais da adolescência e juventude. Frequenta regularmente o psiquiatra, que é o narrador do romance. De repente, ele para de frequentar o consultório e desaparece. Pelos jornais, o narrador tem notícia, muito tempo depois, da morte de seu paciente em Nova Iorque. A busca por informações da morte de Sérgio e o que o teria levado a abandonar sua análise é uma mistura de narrativa detetivesca e percurso de análise psicanalítica. Triste e singelo.

 

13. Na escuridão, amanhã – Rogério Pereira

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Foto: Guilherme Puppo

Pontapé literário do editor de um dos maiores periódicos sobre literatura do Brasil, o jornal Rascunho de Curitiba, o romance tem um tom profundamente lírico e reflexivo. Ambientado no interior de um estado do sul do país, o romance mostra o campo como o oposto de um paraíso idílico: ele é sufocante e cheio de incomunicabilidade entre os personagens. Fugir dele é o mesmo que estar nele, pois a cidade não pode ser idílica ao ponto de superar o campo. Uma família que se despedaça no silêncio, na dor, na imposição e opressão.

 

14. Vermelho amargo – Bartolomeu Campos de Queirós

Escritor conhecido por suas publicações no mercado editorial infantil, Bartolomeu Campos de Queirós nos presenteou com um belíssimo livro pouco antes de deixar esse mundo. Profundamente poético, trata-se de um romance autoficcional. O protagonista volta a rememorar momentos da infância, a perda da mãe em tenra idade. A substituição da mãe pela madrasta tem uma marca física: a diminuição do tamanho das fatias de tomate nas refeições de família. As fatias finas denunciam não só a pobreza financeira, mas a pobreza de espírito e de relação em que ela caiu.

 

15. Aos 7 e aos 40João Anzanello Carrascoza

João Anzanello Carrascoza

O projeto gráfico do primeiro romance desse premiado contista já mostra a diferença em relação aos livros em geral. O texto possui duas cores: verde para marcar os acontecimentos na infância e um tom mais acinzentado para o texto que mostra o personagem com a idade de quarenta anos. Aos 7, a narração é em primeira pessoa. Aos 40, em terceira. Aos 7, temos um texto prosaico e aos 40, um texto em versos. A sucessão dos capítulos conectam os temas entre as duas idades do protagonista, sua relação com os pais na infância, e sua relação com o filho, na idade adulta, fruto de um relacionamento fracassado.

 

16. Santo Reis da Luz Divina – Marco Aurélio Cremasco

Ótimo romance do vencedor do primeiro Prêmio SESC, cujo enredo começa na Guerra do Paraguai e vem até bem próximo de nossos dias. Uma mistura de romance histórico com saga familiar que começa no interior do estado de São Paulo e chega ao norte pioneiro do estado do Paraná.

 

17. Nossos ossos – Marcelino Freire

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Foto: Virgínia Ramos

Um dos melhores livros de Freire, que tem grande força na sua linguagem poética é muito famoso por seus contos. Uma história forte: a de Heleno, um diretor de teatro que vive em São Paulo e acaba se tornando responsável por levar o corpo de seu jovem michê, morto recentemente, até a casa de sua família no nordeste.

 

18. O falso mentiroso – Silviano Santiago

Outro livro na esteira da “escrita de si” desenvolvido com maestria, agora pelas mãos de um grande estudioso da literatura: Silviano Santiago. Como toda boa obra desse sub-gênero, a escrita fica no jogo entre verdade e mentira. Seu duplo, Samuel, que é o narrador do livro, é um senhor na casa dos sessenta anos que é artista plástico e mora no Rio de Janeiro. Samuel vai tentando reconstruir a própria história, mas, ao fazê-lo, mistura fatos que assemelham à vida do escritor Silviano Santiago. Para aumentar a dúvida nos leitores, Samuel se proclama ser um grande mentiroso.

 

19. Tijucamérica – José Trajano

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Foto: Danilo Verpa

Sim, é ele, o José Trajano jornalista e comentarista esportivo. Praticamente um patrimônio que deveria ser tombado pelo tamanho conhecimento que possui da história do futebol brasileiro. Resolveu se aventurar na literatura para uma desforra: não aguentava mais ver seu time, o América do Rio, ser saco de pancada dos grandes. Na ficção, ele se torna presidente do clube e, após um trabalho feito em conjunto com pais de santos e outros rezadores, consegue ressuscitar todos os grandes craques da história de seu clube para jogar um campeonato carioca no século XXI. Extremamente cômico, o romance é recheado de histórias do folclore do nosso futebol e personagens célebres dos dias atuais que se encantam com o “campeonato dos mortos”.

 

20. Brochadas – Jacques Fux

Livro autoficcional detentor de um grande humor. Aqui, Jacques Fux leva além o conceito de brochar. Não se refere apenas ao órgão genital masculino que, na hora H, deixa de funcionar. As brochadas são intelectuais, sentimentais, além de uma brochada sexual feminina. O narrador, de nome Jacques Fux, decide relembrar momentos com as mulheres que passaram em sua vida e escrever um livro sobre as relações que teve com elas. Antes de publicar, decide enviar por e-mail os capítulos referentes a cada uma das mulheres para que elas comentem. Imagine no que isso vai dar…

 

21. O dia Mastroianni – João Paulo Cuenca

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O ponto de partida do romance de João Paulo Cuenca é: passar 24 horas vivendo as mesmas coisas que viveu o famigerado ator Marcelo Mastroianni, conhecido por passar suas horas com mulheres e prazeres.

 

 

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