Para onde caminha o jornalismo cultural brasileiro?

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Os principais editores de Cultura da imprensa brasileira se reuniram para falar sobre os novos rumos do jornalismo cultural brasileiro, em tempos de crise dos grandes cadernos do segmento

 

Considerado um dos maiores eventos do mercado livreiro da América Latina, a Bienal Internacional do Livro reúne escritores, editoras e demais profissionais do mundo dos livros, para uma verdadeira festa, oferecendo cultura, lazer e muitas novidades, durante os treze dias de feira.

Este ano, a sua décima sétima edição bateu o maior recorde de público da história do evento, levando, para dentro dos pavilhões do Rio Centro, Zona Oeste do Rio de Janeiro, mais de 120 mil espectadores. Muitos deles jovens estudantes, o que, por sua vez, contradiz não só a porcentagem referente à total falta de interesse dos mais novos pela leitura, assim como o quadro alarmante da crise financeira, que tem fragilizado cada vez mais as expectativas do país.

O Café Literário é um dos mais tradicionais cardápios da programação da Bienal, e sempre conta com os mais diversificados temas relacionados à literatura e à contemporaneidade.

Durante a mesa "Jornalismo Cultural: Modo de Usar", na Bienal do Livro
Durante a mesa “Jornalismo Cultural: Modo de Usar”, na Bienal do Livro

O Homo Literatus esteve na noite da última sexta-feira (11), para conferir a mesa “Jornalismo Cultural: Modo de Usar”, em que participaram alguns dos principais nomes do segmento jornalístico brasileiro voltado às artes, como os editores-chefes: Rogério Pereira, do Rascunho; Robinson Borges, do suplemento cultural do Valor Econômico; e Paulo Roberto Pires, da revista Serrote (IMS).

Durante o bate-papo, mediado pela jornalista Mona Dorf, cada convidado contou sobre o trabalho realizado em seus respectivos veículos, além de refletir sobre o papel do jornalismo cultural nos dias de hoje e uma possível crise que ele vem enfrentando no Brasil, com a diminuição dos cadernos de cultura na mídia impressa, como recentemente aconteceu com o fechamento do Prosa e Verso, do jornal O Globo.

Para o jornalista Robinson Borges, a internet vem tomando lugar, de uma forma geral, do modo de se fazer jornalismo, já que a maioria das pessoas, sobretudo os jovens, está conectada e consumindo notícias, em sua grande maioria, nas redes sociais.

— É curioso como isso tem colocado em cheque o modelo de negócio do jornalismo. A gente tem um cenário em que a tecnologia oferece uma infinidade de possibilidades. Nunca teve tanta abertura para a cultura e a informação. À sombra disso, pelo menos por uma percepção de uma pessoa da minha geração, que teve que fazer essa transição para o mundo 2.0, é da gente perder um pouco o senso de orientação. Parece um labirinto sem centro.

Já Paulo Roberto Pires acredita que a internet ainda não é um caminho de todo bem-sucedido, devido às dificuldades de se custear semelhantes veículos que trabalham por esta via. Mas, do contrário, o jornalista afirma que, agora, mais do que nunca, é a hora de se fazer o bom jornalismo cultural.

— A saída, em certo sentido, é a internet, mas não é uma saída perfeita, porque falta dinheiro. As pessoas se dispõem a pagar pouquíssimo pelas coisas da internet. Parece que a única forma que alguém queira pagar por alguma coisa é pelas coisas boas.

Rogério Pereira, fundador do mais importante jornal especializado em literatura no Brasil, disse que o seu objetivo é entregar alguma coisa para alguém e que o mais importante é de como o jornalismo cultural pode chegar na vida das pessoas. Além disso, o jornalista apontou sobre o pouco interesse do mercado em acolher os cadernos de cultura.

— Não me interessa que as pessoas me digam que o Rascunho é legal. O que é que o mercado faz para que o Rascunho não desapareça? Não faz nada, absolutamente nada. Então quem se preocupa com essa relação minha com o meu leitor e a fragilidade que tenho com relação ao mercado sou eu.

Confira alguns trechos do bate-papo gravado, com exclusividade, pelo Homo Literatus, abaixo:

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