Paulo Freire: célebre educador brasileiro

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Paulo Freire: célebre educador brasileiro

Conheça mais sobre a obra de Paulo Freire, o maior educador brasileiro, considerado patrono da educação do país.

Quem tem medo de Paulo Freire? - Outras Palavras
Foto: Instituto Paulo Freire

Uma breve biografia

Paulo Freire foi um educador e pedagogo pernambucano. Recebeu o título de patrono da educação brasileira em 2012 e foi o brasileiro mais homenageado da história por títulos de Doutor Honoris Causa. Indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 1995 e vencedor da premiação Educação para a Paz da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura (UNESCO), em 1986.

A pedagogia freiniana começou a ser aplicada no ano de 1963, em Angicos, Rio Grande do Norte. Freire aplicava ali seu método próprio de alfabetização para jovens e adultos. O projeto conseguiu alfabetizar 300 adultos em um tempo curto (45 dias), tendo como ponto de partida o conhecimento prévio dos participantes.

O método de alfabetização enfatizava e respeitava a realidade do aluno. O sucesso foi tão grande que a experiência virou um Plano Nacional de Alfabetização, barrado pouco tempo depois por um período sangrento da história brasileira.

Freire foi preso durante a ditadura militar. Mesmo dentro de uma prisão, fez o que mais gostava de fazer: alfabetizou uma série de recrutas.

Solto, Freire buscou exílio. Ficou fora do Brasil por 16 anos, mas não parou de contribuir. À época, o educador escreveu vários de seus livros, dentre eles Pedagogia do Oprimido.

De volta ao Brasil, trabalhou como professor universitário na PUC-SP e Unicamp. Também foi secretário municipal da pasta de educação em São Paulo.

Paulo Freire: sua obra e pedagogia

Freire é um dos educadores mais citados e estudados no mundo todo. Pedagogia do Oprimido tornou-se o terceiro livro mais citado em trabalhos na área das humanidades em todo o mundo.

Além de Pedagogia do Oprimido, principal obra de Freire, o educador pernambucano deixa diversos outros títulos, como Educação Como Prática da Liberdade, Pedagogia da Esperança, Professora Sim, Tia Não: Carta a Quem Ousa Ensinar.

Para Freire, a educação é uma “prática da liberdade”. A educação comprometida com a percepção do aluno, para o educador, é capaz de transformar o mundo.

Aos excluídos e marginalizados na sociedade, Freire atribuía a expressão “relegados à cultura do silêncio”.  Em suas milhares de entrevistas, fazia questão de ressaltar seu “gosto de respeitar as diferenças”. Fica nítido que um dos objetivos de sua educação era ser uma resistência à opressão, ao autoritarismo, à organização baseada em mentiras.

Há décadas, Paulo Freire explicava o processo do ensino/aprendizagem como prazeroso tanto para o educando quanto para o educador. A educação, para ele, é um processo contínuo mediado por um educador que deve considerar os conhecimentos já existentes do educando — algo que até hoje encontra resistência do método tradicional, no qual o aluno reproduz informações. Freire criticava os métodos de ensino em que o professor era tido como o detentor de todo o conhecimento e o aluno apenas um “depositório”, o que ele chamava de “educação bancária”.

“Transformar os alunos em objetos receptores é uma tentativa de controlar o pensamento e a ação, leva homens e mulheres a ajustarem-se ao mundo e inibe o seu poder criativo.” (Paulo Freire)

Pedagogia do Oprimido

Em Pedagogia do Oprimido, Freire entende o papel da educação como um ato político, como o meio de transformação social, que liberta os indivíduos por meio da “consciência crítica, transformadora e diferencial, que emerge da educação como uma prática de liberdade”.

Freire defende uma educação que incentiva a criticidade do aluno, indo além das disciplinas básicas, para que os educandos possam agir de forma crítica e atuante no meio em que estão inseridos.

“Não existe tal coisa como um processo de educação neutra. Educação ou funciona como um instrumento que é usado para facilitar a integração das gerações na lógica do atual sistema e trazer conformidade com ele, ou ela se torna a ‘prática da liberdade’, o meio pelo qual homens e mulheres lidam de forma crítica com a realidade e descobrem como participar na transformação do seu mundo.” (Paulo Freire)

Seu método pedagógico baseia-se em levar a realidade do aluno para dentro da sala de aula, de forma lúdica e afetuosa. A ideia é fazer o aluno “sentir-se em casa”.

O que move o ser humano, para Freire, é a curiosidade. A curiosidade da criança que há dentro de cada um. “Nunca deixem matar a curiosidade permanente sobre o mundo”.

A sonhada transformação social

Em setembro de 2021, comemoramos 100 anos de Paulo Freire. Para o âmbito acadêmico e educacional, a data já era aclamada. Porém, muito antes do centenário do mestre, hostilidades vindas do Palácio do Planalto sobre a imagem de Freire já vinham sendo proferidas. A ele, alguns atribuíram a culpa pela situação da educação brasileira. Bolsonaro, em uma de suas falas, usa o termo “ídolo da esquerda” para se referir ao educador. Por outro lado, fato é que pessoas que desconhecem sua obra tentam julgá-lo.

Freire deixa um legado maravilhoso. O educador revolucionou a forma de pensar e fazer a educação acontecer. No entanto, sua pedagogia é barrada pelo negacionismo e pelos métodos tradicionais. Por trás dessa atitude, o Brasil caminha com índices péssimos de educação e uma parcela da população sendo analfabeta funcional.

Sua obra não é usada como base nos planos nacionais de educação. Não temos incentivos nacionais para o estudo do método freiriano, algo que tem sido feito por cientistas de outras partes do mundo (o que só demonstra o descaso total do nosso país com a educação).

Por outro lado, vejo que “Paulo Freire vive”, na comunidade educacional nacional e mundial. Caso sinta interesse em saber mais sobre a obra de Freire no Brasil, temos o “Instituto Paulo Freire”, espaço que preserva a obra do educador.

Créditos HL

O texto acima é de autoria de Evandro Konkel. A revisão é de Raphael Alves. A edição é de Nicole Ayres, Editora Assistente do Homo Literatus.

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