Por que você deve ler Pedra no Céu, de Isaac Asimov
Há duas formas de se ler esse livro, cada qual com um resultado diferente. Uma na qual o foco se volta para as ideias do romance e outra, talvez não tão animadora, que é com a trama em si.
Mas vamos por partes.
Isaac Asimov escreveu Pedra no Céu em 1949 e o publicou no ano seguinte, sendo seu primeiro romance. Nele, muitos dos futuros temas da sua obra – inclusive a base do que viria ser série Fundação – já apareceram. Para quem teve contato com essa parte da obra de Asimov, não deixa de ser interessante ter o contato com os seus primórdios.
A história foca na trajetória de Joseph Schwartz, um alfaiate aposentado do nosso mundo e era que é transportado acidentalmente para milhares de anos no futuro. Lá, ele se depara com a Terra numa situação bem diferente do mundo que conhecemos. Somos um planeta sem importância dentro do Império intergaláctico com uma população estável de apenas vinte milhões de habitantes, com a maior parte do terreno coberto por radioatividade (Um detalhe importante que surge no pósfacio. Asimov admite, trinta anos após a publicação, que a narrativa foi escrita no calor de Hiroshima e das propensas possibilidades de que a Terra de fato poderia se tornar radioativa como em Pedra no Céu. O que, por mais escatológica que seja, não deixa de ser uma ideia da época). Schwartz tem problemas em entender o mundo em que está, pois, literalmente, eles falam outro idioma e não há nada muito próximo do que ele conhecia. Além disso, ele acaba se envolvendo numa trama de revolucionários terráqueos cujo objetivo é se vingar do Império e tornar a Terra o centro da humanidade outra vez. Ele também se envolve com Arvardan, um antropólogo de um planeta central do Império que vem para cá com o intuito de pesquisar e confirmar sua hipótese de que o nosso planeta é a origem dos seres humanos que se espalharam pelo universo.
Bastante, não?
Bem, como eu disse, dá para ver o romance de duas formas.
Pelo lado das ideias, Pedra no Céu lida com muitos temas pertinentes do seu período – primeiros anos após a Segunda Guerra Mundial -, tais como a questão da radioatividade. Por outro, ele trabalha com ideias interessantíssimas que percorrerão boa parte das suas obras: a ideia de um grande poder centralizado interplanetário, o poder e a valia da tecnologia, o uso dessa tecnologia, a centralização do poder em grupos hostis, mesmo ignorantes. Mesmo não tendo a profundidade e o charme de obras posteriores, Asimov consegue nos apresentar um arquétipo do que ele desenvolverá pelas próximas décadas.
Já pelo lado da história em si, Pedra no Céu deixa um tanto a desejar. Entendo que este foi o primeiro romance do Asimov. Isso talvez explique porque a trama se torna tão prolongada de forma tão desnecessária – o romance inteiro tem trezentas e dez páginas que poderiam ser resumidas a duzentas facilmente. Os personagens também são um tanto rasos e suas ações, bem como eles, insípidas. O grupo principal de personagens se divide facilmente entre bem e mal e não passam de caricaturas um tanto quanto constrangedoras. Há um certo romantismo kitsch no casal romântico da trama. Por mais que a ideia fosse a mixagem de raças humanas de origens diversas (uma terraquia e um homem de outro planeta), esta parte está mais para dramalhão mexicano do que sci-fi. Por fim, mas não menos importante, a resolução. Há um grande, grandíssimo e quase inacreditável deus ex machina que resolve a prolongada trama. Em menos de duas páginas um problema aparentemente impossível de ser resolvido fora sanado no silêncio por Schwartz. Esse final não convence e deixa o leitor com uma sensação de bobo.
Mesmo assim, vale apena lê-lo, pois é uma forma de se ver que 1) mesmo os bons começam por baixo e 2) desde o início Asimov possuía o germe do que viria ser o centro da sua grande obra, A fundação.
Caso queira uma segunda opinião, mais otimista, deixo abaixo a resenha da Gisele Eberspächer sobre Pedra no Céu.