Pensando Junto: Como Hollywood vem contribuindo para a prática literária – Gabriel Gaspar

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Como sempre, vamos a um rápido feedback da semana passada e depois à coluna dessa semana.

Feedback

Como já vem se tornando comum na nossa coluna, tivemos alguns comentários realmente espetaculares na semana passada. Como vocês repararam, usei o “nossa coluna” pois a qualidade dos comentários me impede de usar o “minha coluna”. Ela é tão minha quanto é de todos que comentam nela.
Tentarei ser o mais breve possível nesse feedback para não diminuir o interesse do leitor mais apressado que, com razão, quer saber o tema dessa semana. Mas às vezes a justiça supera a razão e é por razão de justiça que comento os comentários da última semana. Mas bem rapidinho, relaxe.
O tema era a predileção dos leitores nacionais por livros de ficção de autores estrangeiros e por livros de não-ficção e autoajuda escritos por autores nacionais. Um tema levantado nos comentários foi a responsabilidade do próprio mercado editorial em mudar esse cenário. E certamente dos leitores, em menor grau, de procurar algo novo. Alguns autores nacionais da nova geração foram citados e muito recomendados para aqueles que querem se velejar por águas desconhecidas (e misteriosas). São eles: Marcelo Lacerda, Murilo Rubião, Daniel Galera, Eric Novello, Eduardo Spohr, José Roberto Vieira, Rafael Lima, Raphael Draccon, Miltom Hatoum, Elvira Vigna, Ana Cristina Rodrigues, Carol Bensimon, Luisa Geisler; além, é claro de um que a minha falsa e dissimulada modéstia não me impede de citar: Gabriel Gaspar.
Mais uma vez, o muito obrigado a todos que comentaram e quem ainda não leu a coluna da semana passada pode fazer isso agora. Ou não. Pensando melhor, faça isso depois. Agora, leia o tema dessa semana.

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Como Hollywood vem contribuindo para a prática literária

Sim leitor, pare de esfregar os olhos. Você leu o título corretamente. Já faz alguns anos que Hollywood tem incentivado seu público a entrar em contato com outras mídias – e a literatura é uma das mais beneficiadas nesse processo.
Antes que você imagine grupos de empresários da sétima arte altruístas e interessados em incentivar a leitura, cabe uma observação. Esse incentivo é muito mais acidental do que intencional. E nem todo acidente é ruim (afinal, só podemos classificar se algo é bom ou mau depois que todas suas consequências são descortinadas, ou seja… nunca) mas todo acidente tem causas. Todos. Sem exceções. Vamos descobrir o que causou esse.
Tudo começou com a crise de roteiristas de 2007 (causada também por uma série de outros fatores que serão solenemente ignorados nesse post por motivos práticos. Vamos considerar a crise como nosso Big Bang). Quando a poeira do movimento começou a abaixar, a maioria dos grandes roteiristas notou que era muito mais vantajoso assinar um contrato de várias temporadas com um seriado de TV do que trabalhar no roteiro de um filme – principalmente pelo fato dos roteiristas dificilmente terem participação nos lucros das bilheterias. Com isso, começou um movimento de migração inverso ao que havia até então: do cinema para a televisão.
Toda ação gera uma reação e dessa vez não foi diferente. O cinema não podia parar e começou a beber de outras fontes atrás de histórias. Se observarmos os filmes em cartas nos últimos anos, vemos que a sua maioria esmagadora ou são continuações de franquias que já deram certo ou são histórias adaptadas de outras mídias. E é no meio dessas águas que se encontra a literatura, juntamente com as HQs e os jogos de vídeo game.
“Águas? Que águas?” – pergunta-se agora o leitor distraído. Águas de oceano, digo eu. Vamos considerar a grande massa de público que todo (ou quase todo) artista deseja alcançar como o vasto oceano. Nesse cenário aquático, o cinema é um rio extremamente volumoso que deságua nesse mesmo oceano. E algumas obras literárias conseguem ser afluentes desse vasto rio. É lógico que certas obras conseguem desaguar diretamente no oceano, mas muitas outras acabariam se secando se não houvesse o Rio Cinema.
Vamos nos livrar das metáforas para ajudar os leitores que preferem por os pés no chão (ao invés dos pés na água). Muitas vezes vamos ao cinema e descobrimos que, antes do filme, houve um livro. E esses livros começam a transbordas das livrarias para a casa dos leitores. Se quiserem provar essa teoria, basta ir à livraria mais próxima e ver quantos dos livros que estão nas prateleiras dos mais vendidos são de filmes que ainda estão em cartaz – e muitas das vezes ainda compartilham o cartaz e a capa. Poderia citar exemplos, mas prefiro deixar isso para a memória do amigo leitor.
E você? Já houve algum livro que leu ou teve vontade de ler depois de ver o filme? Deixe aqui a sua experiência!

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Essa coluna é semanal e vai ao ar todo domingo.

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