Pequenas crônicas do escritor defenestrado

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Avenida Paulista vista de cima

Primeira

O amor é tão velho feito um enlatado americano. Hollywood inventou o amor. Aprendi tudo o que sei sobre o amor na Sessão da Tarde. Meu dicionário de frases feitas, engraçadas e espertinhas, é fruto de películas americanas. Ensinam-nos também sobre a antítese do amor. Eva fala no microfone. Lotearam o amor e os americanos são latifundiários. Grito para dentro do paraíso perdido de Eva: “Chupa que é de uva!”. A voz cavernosa soluça um choro de criança esquecida com o pirulito na boca. Chupa que é de uva, porra! Eu te amo! Assistiu Sessão da Tarde demais! Chupa, chupa que a maçã virou uma camisinha sabor uva. Chupa amor, chupa que é de uva!

Segunda

Estou emaranhado num montão de fios, ou na falta deles, da tecnologia. Meti meu pau num buraquinho e a glande saiu no Japão. O computador bateu o cachorro e o scotch, é o melhor amigo do Homem. Eva continua fazendo arte, raspou os cabelos e pendurou um piercing no clitóris. A bicha louca, amicíssima de Eva, se esparrama pela mídia. Dizem que a mídia é a imprensa marrom de outrora. Cuidado para não confundir a bicha-louca-literária-da-mídia e a louca da aldeia que não são a mesma pessoa. A da aldeia é o escritor comilão que não come ninguém. Vive de autofagia e de meter o pau em todo mundo, nada de literal. Dialogam e fingem que são inimigas. Uma não existe sem a outra. Dependem uma da outra para que seus textos façam sentindo. Uma dança frevo. A outra faz pinta de iconoclasta limpando bem os óculos. Batem punheta uma na outra. Brecho pela fechadura e assopro: “Senta que é de menta!”. Sentam, malucas! É de menta. Sentam, sentam que a porra é de menta!

Terceira

Continuo em São Paulo. O frio também. Dessa feita, encontrei-me com meus amigos rappers do Capão Redondo. A padaria de sempre. Discutimos a similaridade entre o rap e o repente nordestino. Era final de tarde quando sai da padaria. Ao sair, dei de cara com um garoto de uns 10 anos, cheirando cola num saco plástico e cantando alto: “Itaú Cultural pega no meu pau, Samu tira o dedo do meu cu”. A chuva voltou a molhar.

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