Por que Haruki Murakami não vence o Nobel?

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Qual é a questão que impede o japonês Haruki Murakami de ganhar o Nobel?

tumblr_lyk5d5O1Uq1qjd1kgo1_500Chega outubro e lá está o escritor japonês mais popular do momento na lista dos favoritos para levar o prêmio, mas todos os anos – e esse não deve ser diferente – os fãs ficam a ver navios. Por quê? Historicamente, Haruki Murakami é popular demais para levar a coroação máxima da literatura, porém, a questão é um pouco mais extensa e complexa que vender um milhão de exemplares em apenas uma semana.

Vejamos os últimos três vencedores. Patrick Modiano, vencedor do ano passado, era praticamente um ilustre desconhecido no Brasil até o anúncio da Fundação Nobel. Quem tinha direito sobre as suas obras correu para reimprimi-las e quem não tinha fez o possível para adquirir. Modiano é um escritor profícuo na França, com aproximadamente 30 livros publicados e traduzido para diversos idiomas. De forma geral, trata dos anos em que os franceses foram dominados pelas tropas de Hitler ou das consequências da Segunda Guerra.

Alice Munro, Nobel de 2013, considerada “mestre do conto contemporâneo”, usa o cotidiano da classe média para compor seus relatos. Questões políticas ou comportamentais são o cerne de seu texto. A história da imigração de sua família também é constante em sua obra. Extremamente conhecida no Canadá, Munro só ganhou destaque além-mar depois de sua premiação.

O chinês Mo Yan, que surpreendeu o mundo em 2012 ao receber o Nobel, é, sem dúvida, o nome mais importante de seu país quando se fala em produção literária atual. Comparado a Garcia Márquez, Mo Yan usa o realismo mágico para criticar o governo. Seu livro Peito grande, ancas largas, inédito no Brasil, mas disponível em Portugal, causou polêmica quando foi publicado em 1996. O regime chinês ordenou que a obra fosse retirada de circulação por conta de seu teor sexual, no entanto, antes fez com que Yan escrevesse um texto em que critica – leia-se ‘demonizava’ – a própria obra.

Em linhas gerais, o que falta a Murakami e sobra à última santíssima trindade da literatura é o sabor político. Murakami é sim um escritor do cotidiano, recheando também seus livros de realismo mágico e referências à cultura pop; todavia, deixa de lado a contestação política ou a mobilização por alguma causa maior que um homem que, aos 30 anos, precisa resolver as pendências com seus amigos de adolescência, como em O Incolor Tsukuro Tazaki e seus anos de peregrinação, um de seus melhores livros.

Se avançarmos a lista – Vargas Llosa, Mann, Coetzee, Naipaul – a predileção por autores politizados fica óbvia e deixas as chances de Murakami ainda menores. E, olhando a lista com os favoritos para este ano, que inclui o japonês, as melhores apostas ficam no queniano Ngugi Wa Thiong’o, inédito no Brasil até o ano passado, e a jornalista bielorrussa Svetlana Alexievich, ainda sem nenhum livro lançado por aqui. Ambos esmiunçam aquilo que os ‘nobelistas’ mais gostam e, por certo, devem estar no topo das casas de apostas na Terra da Rainha.

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