Fiz uma conta rápida, antes de começar a escrever este texto, e cheguei à conclusão que sessenta e quatro por cento dos livros que li em 2013 foram romances. Os outros trinta e seis por centos são livros de crônicas, contos, ensaios e poesias. Perante este resultado, deparei-me com a pergunta, por que leio romances? O que me levou a levantar algumas hipóteses:
1. Uma primeira hipótese – embora um tanto tosca, confesso – é que o faço por que fui influenciado a fazê-lo. Embora muita gente nem saiba exatamente definir o que é um romance, soa-lhes muito estranho que um mesmo livro tenha várias histórias, conclusão que vem de um condicionamento social, como se o natural fosse o romance, e não outro gênero. Uma conclusão possível, contudo ela nos coloca diante do desafio de entender como o romance atingiu esta hegemonia literária no mundo tudo, superando, em aceitação, gêneros como a poesia e a crônica.
2. Considerei também a possibilidade de eu ler um romance pelo simples motivo de querer uma fuga de realidade; mas esta afirmação não se susteve por dois motivos: 2.1. vários outros gêneros efetuam/propiciam esta fuga de realidade, o que não justifica minha paixão por romances, além de me levar ao segundo motivo; 2.2. nem todos os romances que leio são de natureza fantástica, entretanto, nem por isso, envolvem-me menos, ou seja, consigo encontrar uma fuga de realidade na própria realidade – uma conclusão problemática, que pode deixar algum psicólogo que me leia com um pé atrás a respeito de minha saúde emocional.
3. Logo, eu estava girando em círculos – ou perdido num labirinto borgiano -, pois pensei por que leio romances, se não consigo ver um motivo saudável? – pode trocar saudável por: viável, aproveitável, útil, entre outras possíveis combinações –. Numa espécie de paranoia, para piorar a situação, deparo-me com um trecho em O romancista ingênuo e o sentimental, do conceituado escritor turco Orhan Pamuk, onde ele afirma que: “…para mim, escrever romances é a arte de falar de coisas importantes como se fossem irrelevantes e de coisas desimportantes como se fossem relevantes”. Tenho vontade de propiciar um embate cara a cara com o sujeito – mesmo achando que o meu nariz não seja tão grande quanto o de um turco, o que me deixa em desvantagem –, pois comigo em crise, ele me sai com uma dessa! A pergunta permaneceu sem resposta até surgir outra hipótese.
4. E acredite, por incrível que pareça, esta possibilidade também veio do livro de Orhan Pamuk, onde num relato pessoal de sua relação com o romance, ele diz: “Foi levando os romances a sério em minha juventude que aprendi a levar a vida a sério. O romance literário nos persuade a levar a vida a sério mostrando-nos que, na verdade, temos a capacidade de influenciar eventos e que nossas decisões pessoais moldam nossa vida”. Conquanto esta afirmativa tenha me parecida boa, ela acabou por me levar apenas a outro “problema”, de eu sentir que a literatura está me envelhecendo, principalmente os romances. Mas isto me levou a uma conclusão – embora não definitiva, assim como não existe nada definitivo na vida.
Leio romances pois eles me permitem experimentar a visão de mundo de outra pessoa, escapando da visão de mundo que me condiciona para alcançar outra desejável. Mais do que isso, um romance é uma experiência extrassensorial, já que o ocorre ao leitor tudo aquilo que o escritor vê, passando pelo crivo “julgativo” dele, na maioria das vezes. É por isso que a literatura me deixa mais velho, pois vou vivendo todas estas vidas, lendo todas estas histórias.
E você, por que lê romances?