Ao frequentar uma biblioteca, despertamos para o sentimento de descoberta e de aprendizado, o que nenhuma máquina conseguiu reproduzir ainda
Um dos falsos argumentos usados para desqualificar as bibliotecas públicas é o de que não existem livros novos no acervo, como se o lugar fosse um imenso porão de livros empoeirados e esfolados à disposição. Não é verdade.
Muitos leitores, influenciados pela indústria cultural, dão preferência aos famosos “best-sellers”, e por isso costumam comprar livros novos em livrarias famosas sem realmente visitar uma das várias e competentes bibliotecas que existem por aí.
Obviamente, este artigo não pretende atacar aqueles que querem ter sua própria biblioteca, pelo contrário – este post vem para enaltecer a importância de visitá-las e descobrir coisas com a arte de se procurar, encontrar, levar para casa e devolver livros.
O costume de se pegar livros emprestados é motivador, pois como existe um prazo, que geralmente é de duas semanas, para devolução, procuramos nos esforçar ao máximo para terminar de ler tal obra dentro desse período. Como se sabe, os livros que compramos, na maior parte das vezes, ficam encostados em alguma estante, pois sabemos que eles estão à nossa disposição para sempre e, por isso, nos acomodamos.
Quando, além de leitor, se é um “rato de biblioteca”, se aprende a procurar livros por conta própria, se descobre autores na marra, se compara edições e se depara com lançamentos e antiguidades na mesma proporção.
Quando alguém compra um livro por algum site na internet ou em uma livraria, faz um caminho completamente inverso, pois na maior parte das vezes, nessas ocasiões, já estamos com uma ideia fixa sobre qual obra queremos obter – é uma relação meramente mercadológica.
Já não é o que acontece em uma biblioteca. Por lá você tem um contato muito mais próximo com livros até então desconhecidos; é comum esbarrar em uma preciosidade quando estamos à procura de um título oposto.
Quando algo assim acontece, temos a sensação de ter paquerado o tempo inteiro uma garota e se apaixonado pela amiga dela. Já perdi as contas de quantas vezes fui a uma biblioteca com um livro em mente e descobri outra coisa. É uma experiência que enriquece intelectualmente.
Em uma biblioteca, obrigatoriamente, deve-se perder lá dentro, cheirar os livros, vasculhar as prateleiras de cima a baixo – tudo isso sem ser abordado por livreiros, caso estivesse em uma livraria. Outro fator importante são os funcionários da biblioteca, que sempre estão disponíveis para ajudar, mas só se você pedir.
Talvez esses sejam motivos demasiadamente românticos para ir a uma biblioteca no mundo altamente tecnológico em que vivemos, mas o sentimento de descoberta e aprendizado que se tem a cada passo que se dá dentro de uma delas nenhuma máquina conseguiu reproduzir ainda.