Por trás das histórias: a verdadeira inspiração de Jane Austen

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A mulher que abriu a boca com sabedoria e em cuja língua havia a lei da bondade*

Ela queria escrever sobre o coração. E tendo isso como pano de fundo, destacou, com um sorriso, algumas verdades de sua época. Jane Austen viveu numa sociedade de aparências (não que hoje seja muito diferente) em que um bom casamento (R$) era imprescindível para que uma pessoa fosse considerada alguém no mundo. Num tempo em que a mulher deveria limitar-se à sua beleza e senso de humor – jamais expor ou desenvolver o pensamento crítico, Jane ainda assim queria escrever. Mas será que havia espaço para uma mulher tornar-se escritora no século 19?

Nascida em Steventon, Hampshire, Inglaterra, Jane Austen é considerada um dos maiores nomes da literatura inglesa. Seus romances não tratam apenas de casamentos e finais felizes. Tratam de amadurecimento. Apenas para citar algumas heroínas: Elizabeth Bennet teve de engolir seu orgulho e aprender a não julgar pelas primeiras impressões; Catherine Morland teve que deixar de ser tão ingênua e aprender que nem sempre a ficção é sinônimo da realidade; Anne Elliot teve de sofrer as consequências por deixar-se persuadir e aprender a tomar decisões por conta própria. E assim vai. A única coisa que é exatamente igual em todas as histórias, é que Austen deu às suas heroínas o final que tanto desejava para si – a concretização de um amor sincero.

Perguntaram-me certa vez, quem eu seria se eu fosse um(a) escritor(a) famoso(a). Adoro o estilo de escrita de Clarice Lispector e sou amante declarada do enredo de Jane Eyre (de Charlotte Brontë) – o que é um tanto irônico, já que Austen e Brontë não eram melhores amigas. O fato é que, se tratando da pessoa em si, certamente eu seria Austen. Não apenas pela qualidade de seus romances, mas pela mulher incrível que ela foi.

Becoming Jane (que na péssima tradução ficou Amor e inocência) retrata parte da vida da escritora, vivida por Anne Hathaway, conferindo grande destaque ao possível romance que a autora teria vivido com o jovem advogado Tom Lefroy, interpretado por James McAvoy. Conhecer aquele homem foi fundamental para a carreira dela. Jane escrevia para a família e amigos, mas foi Tom quem ampliou seu universo ao lhe apresentar Tom Jones.

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“Essa jovem dama tem um talento para descrever as relações de sentimentos e personagens da vida comum, o qual é, para mim, o mais maravilhoso com que alguma vez tenha encontrado” – Walter Scott, autor de Ivanhoé. (imagem do filme Becoming Jane).

Foi nessa época que ela começou a escrever First impressions, que mais tarde receberia o nome de Pride and Prejudice (Orgulho e preconceito). Com base em algumas cartas que Jane teria enviado a sua irmã Cassandra (e o que fica bastante claro no filme), Jane cedeu ao impulso de julgar Tom Lefroy de acordo com a primeira impressão que teve dele. Quem nunca fez isso e depois se sentiu incrivelmente estúpido que atire a primeira pedra. Um homem arrogante e orgulhoso – alguém que conhece o Sr.Darcy notou alguma semelhança?

O filme é um pouco água com açúcar, mas se tem algo que faz valer a pena assisti-lo é o momento em que Jane precisa tomar uma decisão – talvez a mais importante de toda a sua vida. Será que amar alguém é suficiente ou é preciso levar outros fatores em consideração?

Confira o trailer:

Um grande escritor disse que as pessoas não se encontram por acaso – levam um pouco de nós e deixam um pouco de si. Talvez se Tom Lefroy e Jane Austen tivessem ficado juntos, certamente teríamos outra história (ou nenhuma). Agora, deixando o romantismo de lado, é inegável o talento dessa mulher e a coragem que ela teve ao enfrentar a sociedade e seu próprio coração. Querida Jane Austen, diga-me… como…?!

* “She opened her mouth with wisdom and in her tongue is the law of kindness.” – trecho da placa do memorial de Jane Austen, na Abadia de Winchester, Inglaterra.

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