Não seja enganado. A polêmica em torno da editora que se apropriou de imagens de outras pessoas para usar nas capas de seus livros
Coloco algumas no título porque nem todas as editoras pequenas são problemáticas; muitas prestam seus serviços de forma profissional, e estão ajudando e renovar um mercado editorial quase sempre paralisado, o nosso, e aqui cito nomes dignos: Lote 42, Não Editora, Aquário Editorial; só umas poucas menções, entre muitas outras.
Mas existem aquelas—as algumas—que parecem obstinadas em afundar qualquer reputação que possamos ter; escritores, capistas, revisores—nós, que dependemos do texto para viver. A origem desta matéria está em um caso que aconteceu recentemente e que fez seu percurso pela internet: uma editora pequena foi pega usando imagens das quais não detinha os direitos autorais. Quando denunciada, respondeu não com um pedido de desculpas, mas com assédio contra a pessoa que primeiro fez a acusação e se negando de forma determinada a assumir alguma conduta de má-fé, fazendo um pronunciamento oficial em que explicava que a culpa não era dela, que muitas editoras fazem o mesmo, que o capista foi enganado e que comprou um pacote de imagens no Mercado Livre, sem saber que o uso delas era ilegal (o que vou presumir ser o equivalente editorial a uma criança colocando as mãos nos ouvidos e cantando alto, fazendo de conta de que não está escutando). Fazer com que a editora tirasse as capas do ar foi custoso: envolveu trocas de mensagens com os autores das imagens originais, todos estrangeiros, e até envolveu ameaças de processo escritas por estagiárias.
É um caso entre vários; não ouso tentar numerar quantas editoras menores fazem o mesmo, achando que, porque são pequenas, justamente, nunca vão se envolver em nenhum escândalo. A coisa se torna ainda mais grave quando as tais editoras pequenas cobram para publicar.
Quem me conhece, sabe qual é o meu lema: se a editora cobra, fuja dela. Às vezes, a cobrança não é feita na sua cara (sim, publicaremos; X exemplares por um pagamento de Y). Em certas ocasiões, a cobrança vem disfarçada de “incentivo.” O que significa: publicaremos sua obra, mas exigimos que você compre um certo número de exemplares dela. O que é cobrar; só muda de nome, não se deixem enganar.
Editoras que cobram pela publicação não são exclusividade brasileira, mas aqui elas parecem gozar de certa autoridade. Se aproveitam dos autores desesperados pela ideia de ter o nome estampado em uma capa, ou que ficam envaidecidos quando recebem um e-mail de alguém dizendo que adorou a história deles, que querem publicá-la. Editoras que cobram não ganham dinheiro de suas vendas; ganham dinheiro dos autores que pagam por alguns exemplares, razão de aceitarem a maioria das propostas. Autor iniciante: já estive no seu lugar. Na verdade, nem ouso dizer que saí dele. Não sou nome famoso e nem publicada por alguma grande editora, então não estou aqui com meu dedinho apontado para a sua cara, com a segurança de quem já tem uma carreira estabelecida e estrelada. Estou aqui porque quero te alertar a respeito das ciladas, do que aprendi no longo mercado do caminho editorial. Jamais pague para ter seu trabalho publicado. Insista em editoras profissionais. Você vai ouvir não, muitos deles, mas assim acontece com todos. E se você achar que uma editora não compensa, pela porção pequena do custo de capa que acaba no seu bolso, vá para a publicação independente. Ache um excelente capista, um excelente revisor, uma gráfica e coloque seu livro à venda. Ou publique online; sem custos com papel envolvido. Contratar profissionais não vai sair de graça, mas será muito mais barato (e compensador) do que dar seu texto nas mãos de uma editora picareta. Ao menos o controle será seu.
Falava da editora que roubava capas. Houve uma conclusão, ainda que não muito satisfatória. Ela acabou por dar o braço a torcer, e prometeu remover todas as imagens problemáticas do site, mas não se desculpou com ninguém: nem com os autores prejudicados, com os artistas e com as pessoas que fizeram as denúncias e só receberam perseguição e ofensas. Do dinheiro que recebeu, imagino que nada será devolvido, que ninguém será ressarcido, e que ser pega fazendo uso indevido de ilustrações, às custas dos autores dos quais cobra, não passará de um tropeço na história da editora. O poder de acabar com práticas ilegais cabe ao público e aos autores: não publique com picaretas. Não compre deles. Não são apenas artistas que você lesa quando o faz, mas um mercado editorial inteiro; e se você pretende ser um autor, é algo com o que deve se preocupar.