
Como o Ano Novo ainda está novinho em folha, de fralda e tudo, um cabritinho, cheirando a leite, vale escrever sobre Bartleby, o escriturário. Publicado em 1853, logo após Moby Dick, o conto do escritor Herman Melville é de uma grandeza acachapante e desafia toda a psicologia e a lógica da razão. A história é simples: um bem-sucedido advogado contrata Bartleby como auxiliar de escritório. Tudo corre as mil maravilhas até o dia em que ele, Bartleby, responde a um pedido de seu chefe com um inesperado “Prefiro não fazer”.
A insubordinação de Bartleby é um câncer para o tecido social. Ela rompe e paralisa com as engrenagens da sociedade e contesta todas as verdades estabelecidas. Imagine o que aconteceria se de uma hora para outra nós desertássemos do teatro de máscaras onde nos apresentamos? Qual seria o futuro de uma sociedade capitalista se os empregados e o exército de reserva dissessem um “Prefiro não fazer” aos patrões?
A obra de Melville antecipa o Existencialismo, para qual são as ações que define quem somos. Como não só no recém-nascido 2014, mas em todos os futuros anos da nossa vida, o que mais teremos que fazer é tomar decisões, espero que, pelo menos, saibamos dizer, quando necessário, o “Prefiro não fazer” do Bartleby, o escriturário (Uma história do Wall Street). Nem todas as bolas merecem ser chutadas, oras. O homem está condenado a ser livre, como diria o Sartre.
