Não sei ao certo quantos anos eu tinha. Talvez sete, talvez seis, mas sei que ainda era bem pequena quando tive o meu primeiro contato com um livro. Lembro-me da casa, do pátio, acho que até do cheiro daquele momento, mas o que marcou foi a alegria em ter em mãos um livro: Pluft, o fantasminha, de Maria Clara Machado. A capa, aquelas folhas cheias de letrinhas e o livro. Foi um presente de um amigo de meu pai. Foi um lindo presente. Mais tarde, ganhei outro livro de uma tia e, assim, foi-se formando em mim o gosto por ler.
Sempre ganhei livros, até hoje (que bom), mas o primeiro, a gente nunca esquece. Tenho aquele livro guardado não apenas entre os demais livros, na prateleira, mas dentro do meu coração. E foi essa lembrança boa que me fez refletir: e se a experiência tivesse sido outra? Se eu não tivesse gostado daquele primeiro livro? Será que teria me feito desistir de ler? Penso que o que me fez leitora foram as experiências extraclasse, os livros que surgiram ao longo da minha vida. As experiências vividas antes da iniciação escolar. Mais uma vez eu repito “a primeira vez a gente nunca esquece”. Marca.
Hoje, com o passar do tempo, como professora, me espanto com a quantidade de crianças que têm o seu primeiro contato com um livro numa sala de aula. Muitos alunos sabem operar os seus celulares com melhor desenvoltura do que eu, mas não sabem manejar um livro. Vejo em minhas aulas de leitura que ao pedir que eles escolham um livro para ler (qualquer livro da prateleira que temos na nossa sala de aula) eles ficam perdidos. Abrem e fecham os livros como se não soubessem o que fazer. Depois olham para as capas, as figuras internas e aquele livro que tiver menos palavras é o escolhido. Triste.
Sem sombra de dúvidas, a primeira vez fora da sala de aula é bem melhor! Na sala de aula, não é a mesma coisa. Sempre terá um tom de dever: eu devo ler. Fora da escola é a descoberta sem julgamento, sem pressa, com prazer em desvendar um segredo.
Por isso, sempre peço aos meus alunos para opinarem sobre o livro que leram e oriento-os a serem honestos! Se eles não gostaram do livro pode dizer que não gostaram! Sim, eles ficam espantados ao saber que podem dizer à professora que o livro é “chato”. Mas peço que justifiquem sua resposta. Não gostei porque não gostei não é resposta. Aos poucos, eles vão perdendo o medo de tocar nos livros e de pegarem um livro que não é atrativo para eles. Eles gostam da experiência de dizer NÃO.
Portanto, assim como na vida fora da escola, esses alunos têm a liberdade da escolha. A liberdade em não gostar da experiência leitora. E há alguns que, simplesmente, não gostam de nada. Com esses eu sei que o caminho é mais longo, mais árduo, mais desafiador. São filhos de famílias não apenas que não leem, mas que não possuem nenhuma experiência em ler. Alguns são filhos e netos de pessoas que não sabem ler. Percebe-se nesse instante, que na formação do leitor é necessário que se faça, previamente, uma sondagem em relação ao hábito em ler da família.
Por fim, se a primeira vez a gente nunca esquece, sejamos ponte/cupido entre o leitor iniciante e o livro. E, principalmente, façamos desse primeiro encontro mais do que um momento legal, mas uma recordação para a vida toda, digna de ser lembrada e dividida entre amigos e conhecidos.