Proseando: Autoficção, um novo conceito de literatura

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Ultimamente tenho ouvido falar muito sobre autoficção, em especial no meio acadêmico. O conceito me parece bastante atual e interessante. Não faz muito tempo tive a oportunidade de assistir a uma palestra com a professora Anna Faedrich, na Uerj, sobre o tema e me baseio principalmente nas minhas anotações desse dia para desenvolver meus comentários aqui.

O termo teria sido criado por Doubrovsky, um teórico francês, em 1977, numa tentativa de definir seu romance Fils. A ideia é romper os limites entre realidade e ficção, autor, personagem e narrador, numa mistura de biografia e romance. A história é baseada em fatos vividos pelo autor, mas há uma liberdade maior de criação. No Brasil, o gênero vem ganhando mais espaço apenas recentemente.

Serge Doubrovsky
Serge Doubrovsky

É curioso pensarmos nesse hibridismo entre vida e arte, que na realidade sempre existiu, mas não de maneira tão explícita. Todo autor acaba se baseando direta ou indiretamente em suas experiências e observações para criar a sua obra. No entanto, para dar um tom mais poético ou mais interessante, ele também acrescenta fatos inventados, descrições imaginadas, deixando a criatividade fluir. Como saber o que é verdade e o que é mentira literária? Não dá para saber, pelo menos não com certeza. Aí é que está a graça.

Algumas diferenças entre a autoficção e a autobiografia, para que não haja confusão: a autobiografia é uma narração em prosa que se propõe a contar acontecimentos verdadeiros, de maneira linear, em que narrador e autor se igualam; a autoficção é um romance, mais fluido, que não se compromete a ser 100% verdadeiro nem se desvincula totalmente da realidade. Além disso, a autobiografia normalmente engloba toda uma história de vida enquanto a autoficção costuma contar um fragmento da vida do autor, não raro uma experiência traumática. Há uma necessidade de compartilhar a dor para expurgá-la, como em Feliz Ano Velho, do jornalista Marcelo Rubens Paiva, um relato do acidente que o deixou tetraplégico e suas consequências, e O Segundo Suspiro, do empresário francês Phillipe Pozzo di Borgo, que originou o belíssimo filme Intocáveis.

Outros exemplos de livros que podem ser classificados como autoficção são O Filho Eterno, de Cristovão Tezza, Ribamar, de José Castello, O Diário da Queda, de Michel Laub, A Chave da Casa, de Tatiana Salem Levy e O Falso Mentiroso, de Silviano Santiago.

E aí, se interessou? Deixe a sua opinião nos comentários!

Você pode se informar mais sobre o assunto neste texto: O que é autoficção?, de Anna Faedrich.

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