Em sua coluna para a Época, recentemente, o escritor e autor televisivo Walcyr Carrasco comentou sobre literatura. Ele contou que entrou numa loja em São Paulo para experimentar um casaco e, ao observar a decoração, deparou-se com alguns livros encadernados expostos, dentre eles um exemplar de Três Amores, de A.J. Cronin, romance de que gosta muito. Ao comentar com o vendedor sobre como essa história é bonita e perceber seu total desinteresse, o autor começou a refletir. Quando foi que os livros viraram peças de decoração, modismos que mudam como as roupas durante as estações de ano?
Não digo que isso seja uma realidade apenas brasileira. Mas uma das principais características da modernidade é a efemeridade. Tudo precisa ser prático, ágil, um produto é logo substituído por outro, o MP3 vira MP4, MP5, MP100, Android, Smartphone, tablet, iPad, iPhone, imeuDeus! E se o seu celular tem mais de um ano e não tem Internet, você está ultrapassado! Então, a literatura, a arte em geral, acaba entrando também nessa onda. Tem a moda dos vampiros, dos zumbis, do sadomazoquismo. Você precisa ler os mais vendidos para poder postar nas redes sociais e passar uma imagem de pessoa culta, antenada. Ou então leia Nietzsche para parecer intelectual, compartilhe frases soltas de Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu para se fazer de filósofo.
Na verdade, eu me pergunto se isso é algo tão novo assim. Pseudointelectuais sempre existiram. Ainda me lembro do personagem de Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915) que possui uma biblioteca falsa só para impressionar e se utiliza de discursos prontos e palavras rebuscadas em seu trabalho. Manter um status social, ainda que falso, é uma das futilidades humanas. No entanto, eu acredito que a fugacidade da nossa época pode contribuir para a formação de leitores superficiais, que se deixam levar por modinhas do momento e esquecem (ou nem mesmo chegam a descobrir) o verdadeiro valor da literatura. Ler por ler, sem uma perspectiva crítica, ou simplesmente para exibir um conhecimento que não se adquiriu, é uma grande inutilidade.
Livros não ficam velhos. Os livros só se renovam a cada época. Precisam ser relidos, reinterpretados, perpetuamente atualizados. A literatura tem seu próprio tempo, infinito por definição. Os livros são nossos amigos, nossos amantes. Não são enfeites para vitrines. São enfeites para a alma. Mais importante do que o que se lê é como se lê. A leitura precisa ser prazerosa, produtiva, ou não faz sentido nenhum.
Concluo com uma bela frase da escritora Rachel de Queiroz: “Não é preciso pressa na literatura. Um romance é como gravidez: aquilo fica dentro de você, crescendo, incomodando, até sair”. Para se pensar. Sem pressa.